sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
we're all only one
But that's not good enough.
What is good enough is that we are all the time alert and stimulating one another to do the right thing. Not by judging, but by showing the way.
And you can be, simply showing the way.
And now we are here living the lessons of integration. We need to learn to create a situation where the negative situations and the positive situations unite. Not the positive in preference of the negative, no. Because you create separation that way. You have to unite them."
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
faith in chaos
Ainda que na prática nada, nunca, aconteça
a teoria constantemente a ser redesenhada.
São círculos e quadrados que se entrelaçam
uns nos outros e que não cabem numa folha
porque esta teoria pertence ao infinito.
Mas quem a escreve, quem a vive, se teoria
se pode viver, tira conclusões ao adormecer.
E acorda mais um dia só para ter a certeza
de que está vivo mas sem se mostrar à vida
que a vida não é teoria e há-de ter um fim.
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
feelin' the same way
Não me lembro.
Não me lembro de como foi
A minha última broa.
Nem sequer me lembro
Da última vez que abracei
ou beijei ou respirei alguém.
Os telemóveis que são três,
Todos desligados há um mês.
Venho aqui, aliás, fico aqui,
Contigo, que agora és,
O meu único amigo.
Uso-te para estudar,
Para dar notícias à família,
Para tudo o resto.
Então como estás?
Ontem bem, hoje menos.
Amanhã logo se vê.
Já aí não vou, a casa(?),
nem sei desde quando,
porque não há motivo para ir.
Tal como não o há para ficar,
Aqui, nesta casa,
Que ainda não viu viver.
Que ainda não viu ninguém,
Só eu. Coitada, tenho pena.
De mim não tenho pena,
Afinal deixo-me ficar.
Quando saio à rua estranho
O sol. Que aqui é tanto,
comparado ao outro sítio.
O sol. Fico à varanda,
Vejo-o deitar-se atrás
das montanhas brancas,
sempre que ele se deita.
É o único calor que sinto,
O do sol. Bem cá dentro.
Só me passeio na cidade,
De madrugada.
Quando o sono não veio,
E eu deixei-o ir,
mais uma vez.
Não há ninguém.
Há. Há o rio, que lá para as 8,
reflecte enfim os primeiros raios
De sol. Mas nem sempre.
Hoje sim.
Não sei o que foi feito,
Das minhas horas
Enquanto o sol dormiu.
Estive aqui, estive por aí,
Não faço ideia de onde,
Nem como nem porquê.
Volto a casa,
Quando vejo pessoas.
As pessoas são horríveis.
E eu sorri enquanto
Acreditei que não.
Ou pelo menos enquanto
Acreditei que eram horríveis,
Mas que no fundo tinham
Algo bom para partilhar.
Elas não são horríveis,
São vítimas do horror.
Não importa, hoje são
Horríveis e nada partilham.
Hoje, que não sei o que é,
Hoje, não acredito em nada.
Amanhã ou noutro dia,
Sei que sim. Espero que sim.
Temo que não.
Grenoble, 28.11.2009
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
the darkest evening of the year
Kafka
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
l'arbre
Este caos em que a cidade se encontra desperta em mim com mais força ainda a vontade de mudar, porque para mudar basta um pequeno impulso e a neve de hoje é prova disso. Quem me dera agora ser um desses flocos de neve que caem aleatoriamente em cima de alguém ou de alguma coisa. Olho para eles, são tantos, tão pequenos e caem tão depressa mas parecem simultaneamente dotados de uma inércia que lhes amortece a queda como eles me amortecem os passos quando já caídos no chão formam esse manto branco.
Penso que sou um floco e prossigo em direcção às àrvores que não estão nuas hoje pois carregadas de outros flocos. Se eu fosse um floco, deixava-me ficar a derreter ou a congelar, conforme a vontade do tempo, em cima de uma àrvore. Mas eu não sou um floco.
Esquecendo-me de que não estou só e partilhando com o ar estas coisas que me correm pela mente, deixo-me ficar sentada no manto branco, quando uma àrvore se vira para mim, num tom grave mas não sem doçura, essa doçura própria das àrvores,
- Então quem és tu?
E de repente uma busca intensa embora completamente desnecessária, pelas diversas partes de mim que pudessem conter a resposta deixa-me sem expressão aparente ou qualquer movimento. Podia dizer-lhe tantas coisas, mas não sei quais delas seriam verdade, por isso permaneço sem dizer nada, enquanto a àrvore carregada de flocos, a meu lado, dança como se quisesse cativar-me.
- A mim pareces-me um floco, porque não te juntas a nós?
E eu sem saber por que raio a àrvore haveria de me comparar a um floco e a olhar para os outros flocos para ver se eles partilhavam a mesma opinião. Mas os flocos, em silêncio, não mostraram qualquer interesse em mim. De vez em quando, um floco a cair da àrvore e a desaparecer no manto branco ou nas já algumas poças de àgua, que antes eram partes do manto branco. E vejo então sair-me da boca, em tom de resposta, a seguinte pergunta:
- Para quê ser um floco se vou acabar por cair outra vez no manto branco ou numa poça de água e separar-me de ti e dos outros flocos que te habitam?
Ao que a àrvore, sem parar de dançar, me responde:
- Não sei se sabes que as àrvores lêem os pensamentos. Quando aqui chegaste, chegou-me aos ouvidos que querias ser um floco, e eu só estava a tentar ajudar-te. Percebo que afinal já não queiras. Não leves a mal, mas acho que os seres como tu não sabem muito bem o que querem ser. Nós as àrvores não queremos ser nada porque sabemos que somos àrvores e isso chega-nos. Gostamos tanto de estar nuas como carregadas de folhas ou de flocos porque somos bonitas de todas as formas, e gostamos tanto do vazio que essa nudez do outono nos provoca como da alegria das cores transmitidas pelas folhas que temos na primavera, porque são precisamente o vazio e a alegria das cores, em conjunto, e não só uma dessas coisas, que fazem de nós as àrvores bonitas que somos. Eu sei que não és um floco. Os flocos andam sempre em conjunto e não se deixam ficar por vontade própria ao lado de uma àrvore velha como eu. Ou fazem parte de nós ou de outra coisa qualquer, dificilmente encontrarás um floco sozinho. Mas eles não fazem parte de nós por quererem, acontece-lhes, simplesmente, quando dão por eles estão aqui comigo e acham que vão ficar para sempre. Não sabem que numa questão de dias, horas, minutos, vão acabar por cair e desaparecer numa poça de água ou no manto branco, como lhes chamas. Mas quando vão, vão como aqui chegaram. Fico triste, às vezes. Gostava que a presença deles em mim, ou a minha neles, os deixasse diferentes, que saíssem daqui flocos maiores ou de outra cor ou que falassem, por exemplo. Os flocos não sabem falar, e é por isso que estou aqui a falar deles, porque sei que me ouvem mas não me percebem. Sei que gostam de mim e eu também gosto deles, porque gosto de tudo, de todas as coisas que a minha vista alcança, que os meus troncos abraçam, que as minhas raízes encontram. Mas o facto de gostarmos uns dos outros não modifica em nada o rumo que uns e outros tomamos. Eu sei que ficarei para sempre aqui, neste sítio que me viu nascer, e os flocos não sabem, mas sei-o eu e tento em vão ensinar-lhes, que um dia deixarão de ser flocos e deixarão de habitar uma nuvem, uma àrvore, um manto branco para passarem a ser àgua e depois de àgua outra coisa qualquer ainda, é um ciclo que nunca acaba, como a minha nudez ou as minhas folhas, que todos os anos vêm e vão. E tu não és um floco mas comportas-te como um floco, às vezes. Já te tenho visto por aí, várias vezes, e várias vezes tenho caído na tentação de te ler os pensamentos. E lá vais tu então, a achares que vais ser durante muito tempo tu e que precisas de arranjar outros como tu para passares o teu tempo, a perguntares-te porque é que a vida é assim, sem falares, nunca dizes nada, nunca te ouço falar com ninguém, mas também te vejo muitas vezes lá no meio dos outros, todos os dias quando passas aqui sei que vais ter com eles. E vê-se que gostas dos outros, como eu vejo que os flocos gostam de mim. E percebo que não lhes fales, tal como eu não falo para os flocos, por saber que me ouvem, mas não me percebem... O que tu devias saber e não sabes, pelo menos pelo teu olhar e pensamentos de agora não me parece que saibas, é que ao contrário dos flocos, tu não chegaste aqui a mim por acaso. Para ti é por acaso, eu sei: estavas a andar e eu fui a primeira àrvore que encontraste. Mas se eu sei ler os teus pensamentos, será que não sei controlá-los também? Porque é que até agora ainda não te passou pela cabeça que eu pudesse ter-te trazido até mim? Porque é que os seres como tu acham o contrário daquilo que fazem ou são? Olha para ti, comportas-te como um floco e sabes que no fundo de ti não és nem queres ser floco nenhum. Há coisas que tu achas que fazes, mas não fazes, acontecem-te. É assim com os flocos também. Mas depois há as outras coisas, e é por isso que tu não és um floco, que tu escolhes que te aconteçam. E é isto que eu quero que saibas, que há uma parte ou mesmo infinitas partes em ti que tu não controlas, que tu não conheces, porque tal como os flocos não têm capacidade para falar, tu não tens capacidade para percebê-las. Mas é aquilo que tu pensas e sentes que vai fazer com que essas partes se manifestem, de uma maneira ou de outra. O facto de pensares que querias ser um floco há bocadinho, fez-me querer ter-te comigo, porque estou habituada a lidar com flocos e sabia que tu não eras um, então apeteceu-me saber mais de ti. Mas imagina que tinhas pensado: quem me dera ser um avião. E nesse caso, eu teria deixado que passasses por mim, sem te chamar. E nunca teríamos tido esta conversa. Agora que já a tivemos, vou deixar-te ir, vou calar-me e voltar a estabelecer comunicação com os meus flocos, que já devem estar a achar estranha esta minha ausência e dar as boas-vindas aos recém-chegados. Espero ver-te por aí mais vezes, espero que penses menos em ti como um floco e mais como aquilo que és, espero que sempre que precisares de falar, te lembres de que vou ficar para sempre aqui, agarrada à terra que me viu nascer e que és tu quem vai seguir um rumo ainda por escrever, e que esse rumo é escrito por ti e por quem ou aquilo que tu quiseres que escreva. Pensa e sente aquilo que queres que seja escrito e vais acabar por fazer aquilo que escreveste, em conjunto comigo, em conjunto com todas as outras coisas com quem te cruzas, todos os dias. E não te esqueças do mais importante: não tentes ser um floco se sabes que não o és. Não tentes ser nada, pensa e sente aquilo que tens para pensar e sentir e hás-de acabar por ser alguma coisa. E não vale a pena procurares que coisa é essa.
E lá vou eu então, perna direita, perna esquerda, mais contente por saber que pelo menos com as àrvores posso falar.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
you know the best things in life are free
Suelo
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
on my way
E parece que a minha vida toda é centrada nesta ideia. Ora me sinto plena e confiante, cheia de força e esperança por achar que sou eu que estou certa e que o mundo não tem sentido; Ora se sucede precisamente o contrário por achar que o mundo é dono da razão e que eu não sou mais que uma mente perturbada e demente que por aqui se passeia e tira as conclusões mais transviadas que poderiam ser. Acho que quanto mais vou evoluindo mais vezes sou eu que estou certa, ou pelo menos, assim o vejo. Então porque é que não me consigo integrar nesse mundo se já o percebi? Porque é que não consigo projectar nele de outra forma que não teórica a minha vontade de ser melhor e de transformá-lo também a ele em algo melhor? Será que a minha verdade não pode coexistir com a verdade do mundo? Mas se eu sou parte dele, meu deus! Como é que eu poderei não conseguir fazer parte daquilo que fui destinada a fazer parte? Parece que é uma rejeição mútua: há dias em que não quero nada com ele e há outros em que tento em vão ser aceite. Talvez o problema seja esse mesmo. Tentar integrar-me numa coisa da qual faço parte parece-me ser uma ideia absolutamente descabida de sentido. É estar a forçar algo que devia ser natural. As circunstâncias assim o exigem.
Mas as circunstâncias são transitórias, o eterno será bem outra coisa.
domingo, 14 de novembro de 2010
electric feel
E se as pessoas vivessem (literalmente) de olhos fechados, será que a minha existência no meio delas poderia ser outra que não esta batalha incessante para me integrar numa realidade que vai contra a minha natureza? Diz uma qualquer parte de mim que contrariar a minha natureza é a maneira mais eficaz de aceitar a falta de sentido que revela ter tudo o que é. E agora outra parte ainda a gritar que nada é, tudo está. E para mais argumenta: é por isso que às vezes as coisas parecem fazer sentido. Num momento sim, no outro logo a seguir essa ordem que parecia ser indubitavelmente certa já voou. Que importa? Os momentos bons compensam de forma resoluta os maus. É como que ter em mim todas as emoções sem me sentir obrigada a escolher uma ou duas para ter agora. É como que saber que eu sou tudo e não sou nada, porque estas duas palavras são a mesma coisa. É ver uma mulher a pedir dinheiro na rua e um empresário a sair de um banco e perceber que não há nada, absolutamente nada, que os diferencie (mas lá está, o tudo e o nada são a mesma coisa). É sentir uma emoção negativa percorrer-me as entranhas e sorrir por saber que ela não está aqui em vão. E no fim de contas, é saber que a morte pode chegar quando bem lhe apetecer, porque eu estarei preparada.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
the dream of a ridiculous man
Fyodor Dostoevsky
domingo, 7 de novembro de 2010
siddhartha
"Pendant sa marche lente Siddhartha réfléchissait.
Il constata qu'il n'était plus un jeune homme, mais qu'il était devenu un homme. Il constata encore qu'une chose s'était détachée de lui, comme la peau se détache du serpent, qu'une chose n'existait plus en lui, qui l'avait accompagné, durant sa jeunesse, qui lui avait appartenu: c'était le désir d'avoir des maîtres et d'écouter leurs préceptes. Le dernier maître qui apparût sur sa route, le plus grand et le plus sage des maîtres, le plus saint, Bouddha, il avait dû le quitter, se séparer de lui; il n'avait pu accepter sa doctrine.
(...)
Govinda s'était fait moine et avait pour frères des milliers d'autres moines qui portaient le même habit, avaient les mêmes croyances, parlaient la même langue. Mais lui, Siddhartha, à qui, à quoi appartenait-il? De quoi partagerait-il l'existence? De qui parlerait-il la langue?"
Hermann Hesse
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
la voie
Acredito que sim ou faço por isso, porque o meu estado final não poderia ser outro que de uma aflição e revolta inconcebíveis por me ver transpôr a mesma meta que todos os outros quando não existe comparação possível de percursos (ainda que por enquanto mentais) percorridos.
Mas não seriam a aflição e revolta inconcebíveis mais apropriadas durante o percurso que no seu fim? A resignação vai tomando conta de tudo e a mim hoje, num quilómetro qualquer da minha existência aparentemente conformada, não me parece haver qualquer diferença entre o cego e o perdido. O cego estará perdido, pois não vê; o perdido ficará cego por não saber o que vê.
E eu que acabo de me contradizer dupla ou triplamente porque coerência já não é precisa. Quem sabe, não precisa de ser coerente, porque não precisa de ensinar, nem de ser ouvido. Só precisa de aprender a mover-se em função da sua sabedoria.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
pigeon-holes
Males do not represent two discrete populations, heterosexual and homosexual. The world is not to be divided into sheeps and goats. Not all things are black nor all things white. It is a fundamental of taxonomy that nature rarely deals with discrete categories. Only the human mind invents categories and tries to force facts into separated pigeon-holes. The living world is a continuum in each and every one of its aspects. The sooner we learn this concerning human sexual behavior, the sooner we shall reach a sound understanding of the realities of sex."
Alfred Kinsey
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
the mirror conspiracy
A vontade é tanta de erradicar essa inércia que te consome, a cada hora, a cada tempo, a cada ciclo, porque todos os anos são iguais e quanto mais cresço mais certo isso se torna, eu que ainda tento mesmo que não saia de mim, eu que caminho já sem olhar para onde porque o círculo não se deforma nunca, eu que me afogo e me salvo a mim mesma por morrer ter que ficar sempre para depois, enquanto espero por algo que sei que não vem. Mas eu pelo menos espero por algo que sei que não vem. E tu? Gostava de roubar-te o silêncio e cometer todos os crimes que não tolero, entrar em ti e dizer-te que te sei de cor e sei-te melhor do que tu te sabes a ti. E tu só não me sabes porque nunca tentaste, tu que estiveste lá quando eu nasci, tu que me levaste pela mão tantas e tantas vezes sem eu nunca saber por onde mas sem ter que saber por seres tu a levar-me e isso bastar-me. Lado a lado, durante um tempo que foi um sempre, o da infância, onde não importavam os outros nem as suas opiniões que tu, hoje cego, tomas como melhores que as tuas, onde espaço não havia para brinquedos outros que não os nossos, num campo de batalha também ele cíclico, por nunca o esquecermos um dia que fosse, por ser a guerra da inocência, onde risos e cumplicidade inconsciente eram armas poderosas.
"I have a very strong feeling that the opposite of love is not hate - it's apathy. It's not giving a damn."
O meu medo é tanto e eu sempre a dar-lhe com a indiferença, possivelmente já não há cura para esta minha maneira automática de esconder o que é belo ou forte por não saber como expô-lo, e o meu medo é tão forte, mascaro-me mesmo quando não quero e não quero mascarar-me nunca. Mascaro-me diante de ti que não me vês nem me sabes porque nunca tentaste ou então tentaste e nunca conseguiste - são as máscaras, mas que evidência - mas eu sei-te e nunca tentei mostrar-te que sim, tu que estás perdido, tão perdido, e eu sei-te e finjo que não por não saber como dizer-to, por não ousar sequer olhar-te. O meu medo é tanto, e tu estás perdido e um dia vou perder-te para sempre e morrer então porque morrer não poderá ficar para depois, com tanto remorso de saber que um dia te poderia ter salvo mas não o fiz só porque abdicar de nada, é abdicar de algo. E como tu, eu estou perdida, embora saiba onde, num mundo só meu que em todos os ciclos me acompanha e nada muda, num mundo só meu que não é nem nunca poderá ser, e eu consciente disso mas antes nele que no outro, e tu que me levavas sempre por onde sabias, perdeste-te então numa terra sem nome que fica num mundo que não existe e no qual ainda acreditas.
Confesso-te hoje, num dia deste mundo que é, que há um dia no meu mundo que sei que nunca será, em que terras sem nome são capitais, mundos que não existem coexistem uns com os outros, e em que não há nada, mas mesmo nada, em que não se possa acreditar.
domingo, 10 de outubro de 2010
Escrever é a terapia mais digna da existência,
A terapia das emoções e dos pensamentos.
A busca profunda do que sinto e do que penso
Para que se transformem assim naturalmente
As partículas abstractas rumando aleatoriamente
Em material concreto vestido de forma e lucidez.
É como que um esvaziamento parcial da alma:
Embora tudo permaneça algures no interior
Acontece a transcendência para o lado de fora.
E a exteriorização do que sou, pois se sou
O que penso, não será nada menos nem mais
Do que a minha projecção para a eternidade.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
blow your heart
Albert Einstein
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
one of the tribe
Ocorreu então não inesperadamente a troca do concreto pelo abstracto.
A magia de uma espiral transcendente à vida que nos embarca consigo
E nos deixa pensar que ficar de fora é fugir ao encanto da eternidade.
Esse golpe fugaz de beleza interior que se espalha por todo o espaço
Que sou eu sem que seja meu o eu porque um eu só pode ser universal.
A dança de tudo o que vive e a contemplação recíproca de liberdades
Criam o ambiente propício à harmonia e à salvação da tortura passada.
Jamais o caminho será estabelecido antes de tempo por quem não sabe
Que luz, paz e beleza se encontram num lugar bem longe deste mundo.
Podemos agora dar as mãos e desenhar com as mentes o lugar do amor
Onde cada dia é vivido por cada um num lugar comum da consciência.
domingo, 18 de julho de 2010
baby, it is so warm outside
Friedrich Nietzsche
segunda-feira, 31 de maio de 2010
away
A man needs to travel to places he does not know, he must lose the arrogance that causes him to see the world as he imagines it rather than simply as it is or as it can be, the arrogance that turns us into professors and doctors of what we have not seen, when we should be pupils who simply go and see."
quinta-feira, 29 de abril de 2010
le monde est une comédie dont les philosophes sont les spectateurs
De repente entras tu neste meu mundo citando Aristóteles
E gargalhando sobre a beleza da vida e a ausência da dor
Enquanto me pergunto se és real ou apenas mais um passo
Em direcção à esquizofrenia desenfreada porém agradável
De que sou alvo fácil nalgumas noites mais que bastantes.
Dançamos os dois então pela casa toda porque chão e tecto
Se esforçam por ser um só e todo o espaço entre somos nós
De mãos dadas pintando reciprocamente os nossos corpos
Com tinta escorrendo por todo o lado mas que logo secará.
Sentamo-nos nesse chão que é o tecto sem lá estarmos
Ao mesmo tempo que o nosso olhar se esgueira pela janela
Confrontando-nos à extravagância pouco sã que se passeia
Nesse lá fora onde todos vivem estupidamente encarcerados
Numa prisão invisível mas que tu e eu avistamos daqui.
Esta noite somos apenas dois loucos presos neste espaço
Onde a liberdade entra pela janela e reina do chão ao tecto
E a dança dos nossos corpos não é mais que o suprimento
Para as palavras que poderiam ser sobre a comédia lá de fora
Mas que cada um guarda dentro de si por ser cedo ainda.
Talvez nem loucos nem filósofos, o que é certo e não o é
Que de certo não tem o mundo, comediantes não somos nós
E eu aqui neste monólogo que já se estende para o infinito,
Se os nossos corpos dialogam porque não filosofamos?
quarta-feira, 7 de abril de 2010
quinta-feira, 4 de março de 2010
no matter where you go, there you are
Pois que todo o lado sou eu e a casa está vazia
Enquanto o sol entra pela janela não bem fechada
Mas pouco aberta que o medo é eterno companheiro.
Reina a paz onde a música embala e os maiores sonhos
São o prato do dia sobre uma mesa algures suspensa
No meio da casa que afinal não está vazia, mas podia
Porque ao sair de casa esse balde de água fria que cega
Mas não mata ou que se mata deixa cá ficar na vida.
E as gargalhadas que ninguém ouve num suspiro inerte
Como que uma valsa com a loucura que se passeia na casa
E que se despede assim que o tambor dá o último grito
Porque o tédio está à espera logo ao virar de cada esquina
Dessas ruas mais cinzentas onde caem bombas silenciosas
Em cima de transeuntes que de já mortos não as sentem
E que continuam presos na sua marcha para não sei onde.
Onde fica não sei onde? O que existe lá para ser visto?
Reina a paz em todo o lado que não é nada e que o sabe
Mas que busca um não sei onde que não fica não sei onde.
Fica para lá do que se vê mas num tempo em que se sente
Onde a solidão é uma fotografia esquecida num armário
E o amor é um ponteiro de um relógio que não se cansa
De dar voltas e mais voltas a cada minuto e hora e dia.
Reina a paz em todo o lado as paredes da casa já não são
E as janelas são apenas vidros espalhados por todo o chão
É a dor a tomar forma e a gritar em vão para todo o lado
Porque reina a paz em todo o lado e não sei onde é já ali.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
consciente utópico
Oh desalmados inconscientes! Erguei-vos perante a vida
Uma vez só que mais não serão precisas para que percebeis.
Para que sintais e vivais essa beleza com gratitude e amor
Por aquilo que vos é mas que insistis sempre em deitar fora,
Iludidos por uma eternidade que nunca poderá ser comprada
Porque correis vós do tempo e vos escondeis do que é puro?
Porque sois vós tantos submissos e tão poucos os outros,
Os outros que procuram entender e amar esse mundo tão belo
E que não passam por ele destruindo todo o bem que nele cresce?
Que importa poucos, se em nós a energia e em vós a morte
Assombrando-vos a cada instante distraindo-vos da vida.
Oh desalmados inconscientes! Porque razão não entendeis?
Mas que desgosto, que tristeza que é essa de sentir por vezes
O vosso mal chegar e apoderar-se ferozmente de mim, de nós.
E o receio, oh o pavor! De que a mudança não chegue,
Obrigando-nos a sermos como vós, pobres e tristes desalmados
Mas nunca incoscientes pois habitados por essa luz do saber
E do querer saber ainda mais, pois se queremos ser algo melhor.
Ai, vontade que és um sonho bem nítido no seio desta realidade
Desta realidade desfocada, constante importúnio da loucura.
E a espera injusta já tão longa que nos cansa e nos distancia
Dessa paz e nobreza de espírito que é virtude bem merecida,
Que será aurora precedente a um amanhecer que está para vir
Mas que de estar para vir nos impede de desfrutar e abraçar
O encanto único e a serenidade sumptuosa do momento presente.
Oh desalmados inconscientes! Ainda que não o façais por vós
Deixai de lado o egoísmo e a cegueira por um instante apenas
E contemplai aquilo que vos é oferecido de forma tão intensa
Até que o perdão reine sobre vós e não mais sintais remorso
Pelas barbaridades cometidas durante os séculos da ascensão
A um poder que não vos pertence e do qual vos apoderastes.
Ainda que não o façais por vós, pensai nas obras que construís!
Quereis vós trazer ao mundo mais desalmados inconscientes?
Mas de que lugar da terra poderá ter surgido tamanha maldade?
Por que motivo ignorais tudo o que vos rodeia e vos concentrais
Na busca tremenda e inútil de uma felicidade que não existe?
Por que tomais as vossas palavras e actos como tudo o que é
E pior ainda, transformais isso em crueldade criando tanta dor?
Oh desalmados inconscientes! Que desconheceis esta dor terrível
Pois que todos os dias vos passeais por aqui de olhos fechados.
Não vos importais comigo, por enquanto desalmada mas consciente
Que em cada hora de solidão alimento o meu consciente utópico,
Mar perigoso de fantasias que poderia invadir esta terra um dia
Se os poucos fossem muitos e os muitos fossem conscientes.
Lutai pela liberdade como se o mundo estivesse para desaparecer
E em breve não mais tivesseis a oportunidade de experienciar.
Lutai pela liberdade porque hoje somos homo sapiens censurados
E à nossa volta a natureza livre morre a cada segundo que passa.
Lutai pela liberdade e amai de uma vez por todas, amai-vos a vós
Amai tudo o que é, o visível e o invisível, e amai o que ainda não é
Mas que o poderá ser tão facilmente, se unidos caminharmos em paz.
sábado, 30 de janeiro de 2010
where the fuck is the midpoint?
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
"Le concours est un vrai piège. Tu peux être extrêmement doué que ça peux ne pas suffire à te garantir la place que tu mérites. C'est pour ça que les sportifs par exemple en arrivent tous à se doper de n'importe quelle manière. Un concours, c'est l'illustration parfaite de la loi du plus fort dans nos sociétés d'aujourd'hui, et que ce soit intellectuel ou sportif. Parce que dans un concours, contrairement à un examen, il n'y a pas vraiment un but final à atteindre. Le mérite revient au meilleur. Quelqu'un a déjà remarqué que "concours" pouvait même se comprendre dans le sens courir comme un con? Cette perspective vient de me venir à l'esprit et me plaît bien. Parce que c'est bien de faire des efforts pour être le meilleur, mas pour quoi faire? Surtout sachant que le niveau ne cessera pas de grimper. De même, pour la même épreuve d'une fois sur l'autre: tu peux être d'abord dernier, puis la fois suivante premier, tout dépend des autres candidats avec qui tu es. Le problème est alors que tu ne sais pas où te placer, où te situer, tu n'arrives pas à savoir ce que tu vaux.
Alors tu cours comme un con pour atteindre un but que tu ne connais pas."
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
until the morning
Espécie de jet lag, um dia que já são três juntos do sono que não foi,
Seis provas, dois dias, três países, três aquis, três eus diferentes.
Num espaço de horas, mas o tempo há muito que tem andado do avesso
E eu rio-me disso porque os primeiros raios de sol deste ano estão anunciados
Para um já a seguir que ainda faz parte deste agora em que estou há dias.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
the four noble truths
There is suffering.
There is cause for suffering.
There is cessation of suffering.
There is a path leading to the cessation of suffering.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Desengana-te se crês no destino mas não fiques à espera do acaso
Nem fiques à espera de nada porque a vida não pode ser uma espera
E se perceberes que a vida e o mundo em que vives são duas coisas
Podes escolher salvar a primeira se decidires não penetrar na segunda
Mas percorre com os teus olhos e com a tua alma esse mundo penoso
Consciente de que muito pouco ou mesmo nada poderás cambiar
Por mais abundante que seja a tua vontade e sublime a tua força.
Lembra-te que é possível contemplar cada dia com um novo olhar
E que mais vale deixá-lo perder-se nesse mundo medonho e triste
Do que decidires tu ficar num universo quimérico que criaste só
Na ânsia de achares essa perfeição agradável aos sentidos e à alma
Para decobrires um dia que se transformou numa desgraça só tua
E que lá fora esse mundo desprovido de cor continua o seu rumo
Repleto de almas vazias mas longe do fim ermo a que tu chegaste.
Não existe liberdade para que o ser hedonista que vive em ti
Sacie as fantasias que deixaste crescer sem dares por isso
E não procures consentimento para que a tua dor seja exposta
Porque esse é um acontecimento proibido no seio desse bando
Que trata com desprezo e repulsa as emoções castas e sentidas
A favor de devoções fingidas e de lugares malevolentes do eu
Que essas almas adoptaram criando um nós sombrio e venenoso.
Não te percas na eloquência dos que se dizem felizes ou capazes
Pois as palavras intensas só servem para pintar máscaras às vidas
Dos pobres incapazes que tomados pela fraqueza ou pela ignorância
Não procuram nunca ser algo para lá do mundo que hoje habitam
E que não conhecerão nunca a beleza e a suavidade de um amanhã
Que por mais éfémero que seja trará esse deleite que é o amor
E encherá assim o mundo dos que sentem com essa aura magistral.
Então sente e entende que para que possas sentir não deverás ficar
Nem no mundo das almas tristes nem no teu universo vácuo de verdade
Tem que haver outro lugar onde o amor fique no hoje e no amanhã
Nem que para isso precises tu de desenhar esse lugar dentro e fora de ti
Onde pouco importará se as horas de partilha verdadeira existem ou não
Desde que saibas que vives essa beleza colossal que existe só em ti
Que mais ninguém vê nem aborve mas que tu, mesmo só, mereces viver.
Sempre tua e por hoje só tua,
Tatiana
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
sábado, 5 de dezembro de 2009
Hoje saí à rua. E deparei-me com a morte. Desta vez não foi das almas, nem das ruas, mas do que está à volta, do que já antes estava. As àrvores despidas de cor, as folhas não estão. Os animais não sei para onde foram, o céu chora e o rio está cinzento. Nem verde, nem azul, nem mesmo castanho de sujo. Cinzento de triste, apenas.
Olho para tudo, para todo o lado, para todos os mortos. Tudo continua aqui, mas tudo está morto. Deixei as pessoas, as luzes, o ruído e tudo o resto lá em baixo. Aqui em cima, na montanha semi-pintada de branco, só silêncio.
Hoje sou uma alma vazia e triste, no meio da natureza morta. Hoje choro com ela, para não chorar sozinha, porque sei que partilhamos a mesma dor. É que hoje percebi, que todos os anos eu morro com ela. Só para sentir a beleza de renascer, essa sensação que as pessoas que se crêem sempre vivas desconhecem. Essa sensação louca de mandar a dor embora e de ter em mim, outra vez, o universo, sem ter mais nada porque nada mais será preciso. Esse prazer de saber que os sentidos nunca estiveram tão vivos, porque a beleza entra por todos eles, como se quisesse esgotá-los, como se quisesse deixá-los em extâse, não podendo nunca acabar com eles.
Ai, contar os dias e os meses para os primeiros raios de sol, de sol verdadeiro. Não é felicidade, nem alegria, nem nada que nós tenhamos inventado. É sentir deus em mim, esse deus que não é nem nunca foi, mas que está. É fazer amor com a música, durante horas, podia mesmo ser durante dias, num cenário de árvores esvoaçantes, a olhar para o céu estrelado, e atingir esse orgasmo espiritual, que não se pode partilhar com ninguém, mas que se partilha na mesma porque não se é sozinho. É essa beleza cósmica que não se pode comparar a nenhuma outra, que vive em mim. E da qual eu vivo, nesse dias de sol.
Nasci pela primeira vez numa madrugada da primavera, e sei que desde então, todos os anos tem sido assim. Amei, também pela primeira vez, mesmo sem saber o que era amar, numa primavera dessas cheias de vida. Morrer para renascer na primavera, com as árvores e as flores e os animais, que me encontram e não têm medo de mim. Viver e ser e sentir, longe de tudo isto que há agora, que sempre há. Ou no meio de tudo isto, ignorando tudo isto. E sorrir. Porque sorrir sabe tão bem, quando vem a vontade. Quando é a vida em mim que sorri e não eu. Quando o sorriso é para mim e para toda a gente.
É não ser mulher, nem homem, nem sequer animal, porque é ser para além disso. Porque se a vida está, o amor também. E o amor não tem nem nunca terá limite, nem forma, nem tempo. Quase que me apetece dizer que nem cheiro, nem sabor, nem cor. O amor é aquilo que nunca será dito nem visto, pois só tem que ser sentido. E ser sentido para lá do cheiro, do sabor, da cor. Sim, para lá dos sentidos. Para lá de uma mulher, de um homem, das árvores, dos animais. O amor é aquilo que se sente só em nós. É sentir em nós esse homem e essa mulher perdidos por aí, essa criança que já é tanto sem sabê-lo e que talvez nunca o saiba, esses pássaros que transformam a atmosfera em melodia ao acordarem, essas árvores que dançam e que nós respiramos todos os dias.
O amor é aquilo que devia ser. Todos os dias, em todos nós.
Num mundo de amor, esse amor que a natureza sabe mas que poucos homens conhecem, não seria preciso cair com as folhas a cada outono, deixar-se morrer no inverno. Esse amor que eu sinto quando renasço, na primavera, e que dura enquanto dura, seria suficiente para o resto do ano, para o resto do tempo, para o infinito, para todos nós, para lá de nós, se todos conseguissemos numa primavera destas, perceber que nós somos a natureza e que se tivermos amor para dar, esse amor tão difícil de conhecer de tão escondido que anda, se tivermos esse amor em nós, num tempo que não é por ser eterno, há uma parte da natureza que nunca irá morrer.
domingo, 29 de novembro de 2009
E ao voltar a lembrar-te,
Mesmo que em sonhos,
Porque de não fumar,
Voltei a fixar os sonhos
E a sentir-me estranha
De manhã, ao acordar,
Percebi que só te amei
Depois de te ter amado,
Porque sempre soube
Que ser a dois
É tão mais fácil.
Não há droga, nem hábito,
Nem rotina, nem nada,
Que substitua a sensação
De nunca se estar sozinho,
Por se estar em alguém.
Pena é que do amor à loucura
Seja um passo pequenino.
É que há os que amam,
E os que fazem por isso,
Só porque não sabem ser,
Sozinhos.
Hoje percebi também,
Que antes de ti, e mesmo
Enquanto estiveste em mim
E eu em ti, eu tinha amor
Para dar, para partilhar.
E sabia ser, sem ti,
Sem ninguém. Ser só eu.
Depois de ti, transformei-me.
Em ti, em toda a gente.
Com a simples diferença
De não saber inventar o amor.
Então ainda aqui estou,
Sozinha, sem nada ser,
Porque para mim agora,
até ser a dois é difícil.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
I am getting so far out one day I won't come back at all
Se antes era medo,
Agora como tudo o que sobra,
nada mais é que indiferença.
Ainda que na teoria não o seja.
Na teoria, na teoria...
Se fazer fosse como dizer
Não usaria eu essa mesma
máscara, a da apatia.
É que as emoções são e estão.
Ou talvez seja: vêm e vão.
E mesmo assim, todos os dias,
Eu grito e choro e rio e danço.
Sem que ninguém saiba,
Pois que ninguém tem de saber.
Lanço olhares que são esse grito,
o meu passo, o meu passo é
como que um choro lento.
E se risos já não ouso,
O sorriso sempre presente,
É que já não sei quando
Nem porque, é suposto usá-lo.
Onde está a piada afinal?
Então danço e danço e danço
Num rodopio sem fim.
Quando dou por mim,
Nunca sei onde estou.
sábado, 14 de novembro de 2009
Hoje sinto necessidade de falar sobre (as minhas) viagens de comboio.
O percurso é sempre o mesmo, embora se alternem os dias de sol e os de chuva, a cada semana que passa, o visível avançar da estação. O comboio é que não é sempre o mesmo, mais ou menos espaçoso, mais ou menos bonito, mais ou menos confortável. Mais ou menos turbulento, também.
Tento aproveitar a viagem para olhar para mim (o reflexo no vidro obriga-me) e para olhar para as pessoas que se encontram no mesmo comboio que eu. E também é claro, que me perco a olhar lá para fora, não há palavras que traduzam a beleza da paisagem.
Olho então para as pessoas, durante parte da viagem. E, mesmo sem querer, divido-as em grupos. O primeiro grupo, o dos entretidos: os que vão de olhos postos no portátil seja a trabalhar ou a ver filmes ou até mesmo a jogar solitário, os que com os phones nos ouvidos se encontram de olhos fechados praticamente toda a viagem, mas sem dormir, pois abanam discretamente mas de forma rítmica a cabeça, os que adoram viajar absorvidos na leitura (reparei que estes costumam olhar de lado aqueles dos phones nos ouvidos, talvez a música alta os incomode), ainda os outros envolvidos numa sucessão de telefonemas que nunca mais acaba, e tantas outras coisas como por exemplo, hoje, uma senhora que vinha a tricotar. Acho que não devem gostar muito de andar de comboio, essas pessoas. Aposto que não gostam de viajar, gostam apenas de partir e de chegar ao sítio esperado, de passarem então a viagem absorvidos noutra coisa que não a viagem.
Depois há as outras pessoas, de olhar fixo através da janela. Não se movimentam para fazer o que quer que seja, nem olham para outro sítio, apreciam a paisagem unicamente olhando para "a" janela. Para a janela que se encontra a seu lado. E passam a viagem toda assim.
Pois bem, às vezes gosto de olhar para essas pessoas que passam duas horas inteiras a olhar através dessa janela que se encontra lá mesmo ao lado, é que elas nem reparam que eu olho para elas, quer estejam a olhar para si próprias através do reflexo no vidro ou lá para fora através do mesmo. Confesso que também já fiz exactamente o que elas fazem, na minha primeira viagem, destas muitas que tenho feito. Mas na minha segunda viagem, descobri a janela do outro lado. Foi por acaso. Aquela janela que reflecte na nossa mas que se formos pela lógica de alguns, é a janela que pertence à pessoa que decidiu sentar-se ao lado dela. Seguindo essa mesma lógica, trata-se de uma janela proibida para nós. Quando tento aproximar-me dessa lógica, até que entendo as pessoas que agem segundo a mesma. Percebo então que o que mais me intriga, não são as pessoas que de tão absorvidas na paisagem que a sua janela lhes permite visualizar, nem reparem que há a janela do lado, onde a paisagem pode ser, por vezes, completamente diferente. Também não são aquelas, que passam a viagem entretidas para não terem que pensar ou observar ou ser simplesmente durante duas horas um pedaço de nada enfiado numa caixa com rodas que as transporta (nunca sei para onde, às vezes gostava de perguntar-lhes para onde vão) enquanto lá fora a natureza grita desesperadamente por olhares e sentidos e emoções a cada instante, coisas que elas não sabem bem o que querem dizer ou então se sabem, preferem não incluir na viagem.
As pessoas que eu realmente tenho dificuldade em perceber, nesta minha viagem de comboio, são aquelas que por um momento deixam de observar a paisagem através das suas janelas e pousam os olhos na janela do lado, discretamente. Aquelas que vêem que nessa janela do lado a paisagem é diferente. E que mesmo assim, voltam a encostar a cabeça à sua janela e a olhar através dela, para a paisagem que de há horas vem já a entreter-lhes a vista, embora também a paisagem esteja sempre a mudar quando observada dessa única janela. (É que o comboio anda, embora a paisagem fique lá). E por vezes, raras, há pessoas de entre essas, que voltam a olhar para a janela do outro lado, de novo. Só que tal como da primeira vez, a vez do primeiro olhar discreto, apercebem-se de que há outras pessoas entre elas e a janela, que poderão sentir-se desconfortáveis. Que poderão achar que a pessoa que olha, lhes pousou os olhos em cima e não na janela, porque de certa forma tem alguma coisa contra elas. Que poderão mesmo vir a achar que a pessoa só pode ser maluca por estar a olhar para ali em vez de olhar através da sua janela. É por isso que esquecem a janela do lado e se concentram na sua.
Um dia gostava, mas gostava mesmo, de ter coragem para meter conversa com uma dessas pessoas, que olham sempre através da sua janela, mas que num segundo ousaram olhar pela minha ou por qualquer outra janela para observar o outro lado da paisagem. Gostava de contar-lhes como é bonita a viagem de comboio quando se olha através de todas as janelas que os nossos olhos podem alcançar. Não que eu considere que a viagem não tivesse sido bonita, daquela vez, daquela primeira vez em que passei duas horas a olhar sempre pela minha janela. A paisagem era linda. Vi lagos e montanhas e animais. Cores, tantas cores. Mas há sempre momentos, troços da viagem, em que sinto que ela ficaria incompleta se eu não olhasse lá para fora através da janela do outro lado também. É que há pedaços de paisagem em que os lagos, as montanhas e os animais são mais bonitos, ou simplesmente estão lá, quando através da minha janela há apenas um descampado todo igual e sem fim ou um muro de pedra que tapa a vista para o que está mais longe, lá mais perto do horizonte. O ideal é, uma vez habituados ao caminho, sabermos onde estão esses pedaços todos de beleza e deixar o olhar saltar de uma janela para a outra durante toda a viagem.
Acho que vai demorar bastante até eu perceber essas pessoas de uma janela só. Mas acredito que seja possível. Tal como acredito, ou tento acreditar, que embora levem o seu tempo, elas aprendam um dia, a deixar ficar os olhos na janela do outro lado sempre que lhes apetecer, sem medo do que as pessoas que ocupam o espaço entre elas e a janela, possam pensar ou mesmo dizer.
(O meu sonho é um dia ir no comboio e de repente todas as pessoas começarem a falar umas com as outras, sobre o que pensam da paisagem).
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
sábado, 19 de setembro de 2009
Yes. Yes. Yes. Yes...
As noites, mistura de nada e solidão.
Sempre foram, pura ilusão de uma época
Em que algo tenha sido diferente.
Longe e confusos na memória
Os tempos em que se partilhava,
Em que se dava e recebia,
Sem que se percebesse alguma coisa.
How can we help? What can we do for you?
As noites, mistura de nada e solidão.
Pensamentos positivos, porque no nada
Há lugar para o tudo.
Dias que correm, dias que voam, dias que passam
Por mim que flutuo, por mim que viajo,
Sem sair do mesmo sítio,
Sem perceber coisa nenhuma.
We expect great things from you.
E eu que esperava que se partilhasse.
A família, lugar sagrado de reconforto
Mas também de horas, em que não se é
Nem se faz outra coisa, senão fazer parte.
Fazer parte de algo que não se percebe
De algo que não nos percebe,
Tais foram as transformações que vivemos.
Should you ever be confronted with the temptation..?
Fugir, fugir.
Para o lugar onde só estou eu
E quem a mente quiser que esteja comigo.
Onde a visão do mundo é tão melhor.
Onde a visão do mundo é aquela que eu quiser ter.
Onde eu sou o que eu quiser ser,
Mesmo não sendo nada, não estando em lugar algum.
Yes. Yes.
E as horas passam, as horas de pura concentração
Naquilo que não interessa, teorias e fórmulas
E saberes que se tomam por reais, e as horas,
As horas, as horas da solidão, que se misturam
Com os saberes e as teorias de mentes
Que quiseram perceber tudo e que não souberam
Simplesmente ser, sem nada perceber.
How can we help? What can we do for you?
Sinto falta das noites de nada e solidão.
Das outras noites, que não estas.
Das noites que me permitiram crescer,
Conhecer-me, amar-me, ser algo
Mesmo que só para mim.
As noites de nada e solidão,
Na tua companhia,
Tentação a que eu me habituei a ceder.
I assume that was an error and will not happen again.
O erro é ficar aí, é não querer perceber
O porquê de querermos perceber tudo
Aquilo que não é importante.
O erro é fazer aquilo que não se quer,
É distanciarmo-nos daquilo que somos
Até não nos conhecermos, não nos percebermos.
We expect great things from you.
Tenho medo de ter caído no erro.
Falta-me tempo para ser, para fazer, para sentir.
Não me vou deixar levar outra vez
Pelos trilhos das sensações virtuais.
Porque eles me levaram ao caminho,
Mas quem vai percorrê-lo?
Sou eu, só eu. E quem a mente quiser que venha comigo.
Porque a solidão, que agora são fórmulas e teorias,
Não deixa espaço para mais nada.
Nem para a tentação.
(Ir ao outro mundo, ficar lá umas horas,
E voltar. Sabe tão bem matar saudades.)
Marijuana (1200 Micrograms), remix by Talamasca
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
scientific reality
Metáforas na gaveta
e mundo paralelo trancado no armário.
Aqui tudo encaixa, tudo é exacto
e não há lugar a falhas,
muito menos a divagações.
O que é, é. Ponto.
Sempre às cegas quando escolhemos,
porque escolhemos então?
Somos obrigados.
Isto se quisermos viver.
Caso contrário,
deixemos que escolham por nós.
Mas eu já aqui disse e repito,
(tal é o medo de me esquecer)
eu escolhi viver.
Escolhi viver aceitando que nada é.
Ou pelo menos que tudo o que é,
não o será.
E agora, tenho que absorver tudo
aquilo que não é,
mas que alguém quis que fosse.
Não faz mal.
É só mais um pedaço
de viagem.
A natureza continuará a ser
o refúgio.
O pensamento, o motor.
O desconhecido, o objectivo.
O que importa agora,
é apenas isto:
Liberdade.
Para começar de novo, outra vez.
Desta vez não vou falhar.
sábado, 25 de julho de 2009
journey of the soul
As àrvores dançam num ritmo sereno
e os animais saltam e brincam,
buscam alimento e afecto,
e procriam.
E talvez sejam felizes.
Nós fazemos exactamente o mesmo,
embora de maneira diferente.
E nunca chegamos a ser felizes
porque tarde ou nunca percebemos
que a felicidade não é o objectivo,
mas sim o caminho.
Ou talvez possamos ser felizes
no dia em que observarmos de perto os animais e as àrvores.
E o sol, e os rios que correm para o mar sempre no mesmo sentido.
Porque o mar não muda de sítio.
Nós não somos um rio.
Ignoramos para onde vamos,
não sabemos onde fica o nosso mar.
Mudemos então o sentido da corrente quando for preciso.
É que morrer tem que ser alguma coisa.
Bonita, como o mar.
E não o será, se continuarmos a passear-nos na vida
já mortos,
a fingir que vivemos.
sábado, 18 de julho de 2009
enlightened evolution
Vou-me embora. Aliás já não estou aí. Vim-me embora para um mundo melhor, para uma dimensão superior. Um mundo onde as àrvores nos dão energia, a terra cria seres de uma beleza mágica, o céu transmite paz quer esteja um dia de sol ou uma trovoada majestosa a cair sobre nós. Agora que vejo tudo de forma tão lúcida, questiono-me porque é que achei que ia encontrar tudo aquilo de que precisava nas pessoas. Porquê as pessoas? Porque é que desde sempre eu vivi nessa ilusão? Tudo o que fazemos, fazemos para satisfazer as nossas necessidades.
Assim sendo, o amor não existe. É apenas um conceito criado para traduzir a necessidade que temos de preencher certas falhas nossas através dos outros. Falta-nos confiança, falta-nos afecto, o nosso amor próprio fugiu, sobra apenas um vazio imenso qualquer parte dentro de nós. Num sítio onde não conseguimos chegar mas que nos comanda a vida e os sonhos. E o que fazemos nós? Procuramos pessoas, procuramos criar relações com essas pessoas, para que nos possam dar qualquer coisa que preencha o vazio, o nada com que convivemos todos os dias. Pois eu descobri que não é nas pessoas que temos que procurar isso. Ninguém nos pode preencher. Nunca amaremos ninguém na verdade. Ou então talvez esse seja o motivo pelo qual estamos aqui. Conseguir amar alguém que não nós próprios. É que o problema é que ninguém pode amar ninguém se não se amar a si próprio. E vivemos numa sociedade em que damos demasiada importância ao material, ao físico, ao ontem e ao amanhã, esquecemo-nos de que a vida não é isso e acabamos por nos esquecer de cuidar da alma, de nos amarmos, de nos conhecermos, de chegarmos ao fundo de nós, onde não há nada, isso somos nós. E torna-se então impossível amarmos os outros porque não temos amor em nós. Li num lugar "Qu'un être humain en aime un autre, voilà le critère ultime, la dernière preuve, l'oeuvre auprès de quoi tout autre travail n'est que préparation." E senti uma luz sobre mim quando o fiz. Agora acontece-me isso frequentemente. É quando sinto as coisas numa dimensão impossível de traduzir por palavras, por gestos ou por qualquer outra tentativa corporal. Talvez por ser uma dimensão espiritual que desde sempre existiu em mim, mas cuja presença eu nunca tinha sentido antes. Agora que ela se revelou, é como se tudo fosse muito mais simples. Como se a vida efectivamente fosse bonita. É que se acreditarmos muito numa coisa, ela acaba por tornar-se a nossa realidade. Mesmo que não seja a realidade real. A essa nunca acederemos portanto podemos escolher aquela que nós quisermos para a nossa vida. É questão de sermos positivos ou negativos, de nos abrirmos ou fecharmos para o mundo, de centrar em nós energias construtivas ou destrutivas. Eu estudei-os todos. Todos os movimentos: determinismo, indeterminismo, liberdade condicionada, causalidade, etc. Todos têm falhas. Nenhum pode ser real. Ou então acontecem todos simultaneamente. A verdade é que eu acredito que a escolha é sempre nossa. E agora que sei que sou eu que escolho, escolho ir onde quiser. fazer o que quiser. ser o que quiser. Escolho tudo aquilo que está em extrema compatibilidade comigo, com o meu interior, com o meu lugar sagrado algures escondido no meu corpo, que é um templo. Sou livre. E sou livre porque consegui encontrar um meio termo entre a liberdade e a sociedade. Aprendi a ser livre em sociedade. Porque eu preciso dela, a sociedade é informação em toda a parte. E viver, é estar constantemente a receber informação de todos os lados, de todas as maneiras possíveis. Precisamos de energia. Informação é energia. Mas jamais viverei conforme as leis da sociedade. As leis da sociedade que se transformaram em mandamentos para vidas vazias e tristes, onde se deixou de lado o auto-conhecimento, a inteligência, as emoções no seu estado mais puro, todas as características que nos poderiam permitir continuar a evoluir. A evoluir num sentido bem mais puro e imaculado. Já não me custa sorrir ao mundo, sorrir aos outros. Com o mundo estou em harmonia. E com as almas tristes que se passeiam à minha volta tento fazer o que posso. Sorrio-lhes porque me situo num patamar acima delas. E sinto que preciso de lhes enviar a força, a energia, a luz de que precisam para se virem juntar a mim. Faço o que me apetece e quando me apetece agarro uma pessoa na rua e dou-lhe um abraço. Porque eu já fui essa pessoa, eu já me passeei de olhos no vazio, mente no escuro, coração atravessado pela dor. E quantas vezes não desejei apenas um abraço.
Mas também sei que para chegar aqui foi preciso morrer. Eu morri emocionalmente. Deixei de conseguir sentir. O que quer que fosse. Por mim, pelos outros, pelo mundo. Eu deixei de ser, por ter deixado de sentir. E ao deixar-se de se ser, morre-se. Porque existir não é nada. Eu continuei por aqui a existir no mundo, mas morri por dentro porque deixei de viver. Os objectos também existem mas não têm vida. Eu era um objecto. E agora, sinto-me em contacto comigo, com a vida que há em mim, sinto as emoções crescerem pouco a pouco, mas a um nível tão mais intenso que as outras emoções que eu vivi até hoje parece que soam a falso, parece que não foram de facto emoções, foram a tentativa de meter em prática os conceitos exteriores que fui absorvendo ao longo da minha existência.
E fui eu que escolhi viver.
Pela primeira vez desde que existo, estou a conseguir apreciar a serenidade do momento presente. O meu dia-a-dia tornou-se tão mais cheio e belo. Eu não consigo exprimir o que sinto por palavras, nem sei porque é que vim escrever. É tanta beleza que eu não acredito que haja maneira possível de conseguir partilhá-la com alguém. Pelo menos por palavras. Talvez noutra dimensão da consciência. É por isso que eu agora todos os dias procuro pessoas por aí. Ando quilómetros e quilómetros. E são tantas as pessoas: que me sorriem, que pedem ajuda com a expressão que portam na cara, que emitem ondas de desespero, que vêm falar comigo. E descubro que algumas também se vieram embora como eu. Acho que a beleza máxima do meu dia é quando encontro uma pessoa dessas, com quem posso partilhar tudo o que sinto sem fazer nada. Sem dizer nada. Sem expressar nada. Pelo menos nada captável pelos sentidos. É tão bom saber que não estou sozinha. E passo os meus dias sozinha. Mas jamais estarei sozinha, aquele sozinha que me destruiu até eu não ser nada. Mas ainda bem que conheci a solidão, porque de outra maneira nunca teria morrido e nunca teria renascido para ver o mundo desta perspectiva. Teria continuado a ser o que era, ou seja, a não ser, limitando-me a existir até que ocorresse a minha morte física.
Este foi sem dúvida o ano que teve mais sentido de acontecer na minha vida.
Eu estava à espera dele. Nunca pensei que viesse tão cedo. Sei que poucas são as pessoas que me cruzam na rua que passaram pela transformação e conseguiram atingir este estado de consciência pura.
Mas sei que apesar de tudo somos alguns. E muitos vêm a caminho, eu sinto-os por aí na fase em que eu ainda há tão pouco tempo estava. Só é preciso parar, pensar, perceber através do pensamento que vivemos na ilusão de que sentimos e, de seguida, movermos todas as forças que tivermos em direcção à mudança, à nova percepção das coisas, nós somos um recipiente vazio de sentimentos, de crenças, de emoções, de pensamentos, de vida. E estamos finalmente prontos para receber aquilo de que precisamos e para darmos aos outros e ao mundo o melhor de nós.
Qualquer um de nós pode fazer isto.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
segunda-feira, 13 de julho de 2009
beyond the senses
Não sei quem és nem de onde vieste, o que fazes aqui e porque é que me escolheste a mim. Mas obrigada. Não sei se és forma, se és tempo, se és espaço ou até vida. Não sei nada. E graças a ti aprendi a aceitar isso: eu não sei nada. Posso permitir-me de conhecer muita coisa, à minha maneira, mas no fundo, como toda a gente, vivo na ignorância. Não importa, tu estás aqui. Não sei se és eu ou se és algo para além de mim. Eu sinto-te aqui, não sei exactamente onde, mas em mim. E no entanto sinto que vens de fora, de outro lugar, porque neste mundo eu achava que disto não existia.
Chegaste e eu senti a tua chegada. Mas não soube que era uma chegada. Instalaste-te. Por favor não me digas daqui a uns tempos que também tu não passaste de uma ilusão. Eu sinto que não o és. És bem mais, mas não sei exactamente o quê. És a força, a energia, a vontade, a motivação. És uma onda transcendental que me percorre o corpo todo e me faz andar, sentir, viver. O que és tu? Às vezes ainda me questiono. Mas depois rio-me, porque não preciso de obter resposta.
O que não és, sei eu. Não és uma pessoa nem és deus e certamente não serás um demónio. Quando te sinto, sinto o teu poder. E sei que tu sentes o meu, porque és tu que mo transmites. Cada dia que passa me sinto mais forte. E menos só. É que tu fazes com que eu queira passar tempo comigo, só para te poder sentir.
Não sei o que és, nem sei se deva falar de ti a alguém. A loucura já me bateu à porta algumas vezes e eu nunca a abri. Tenho medo que tenha sido desta. Mas sinto que não, sinto que isto é melhor do que o que havia antes. Porque antes não havia nada. E que mal tem ter abandonado todo o meu cepticismo? Sabe bem a ausência do vazio. Sabe bem esta coisa que lhe tomou o lugar. É como se, finalmente, depois de todo este tempo, eu soubesse exactamente o que fazer. Porque faço o que me apetece. E és tu que me mostras tudo, eu sei.
Ensinaste-me a ouvir-me a mim mesma.
Ensinaste-me que existem coisas que escapam ao pensamento humano.
Enviaste-me a luz, a força, a vontade.
Quando digo que não sei se és algo exterior ou se és eu, é porque sinto que quando te falo, falo para mim. E quando me respondes, tudo faz sentido, como se fosse algo que partisse de mim. Como se tudo já existisse aqui dentro antes, mas eu nunca tivesse encontrado nada.
Se foste tu quem me encontrou, então obrigada. Só te peço que não me deixes.
Se fui eu quem te encontrou... Acho que me posso amar a mim mesma mais do que a qualquer outra coisa no mundo. Porque consegui. Sou mais forte. Estou noutro nível. E apesar de toda a fraqueza, de tanta dor, eu consegui.
E hoje sei.
Se fui eu que te encontrei, então não existe nada neste mundo, que seja impossível.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
alive
Só não quer quem não pode. Quem está vivo, está vivo."
Cal
José Luís Peixoto
sábado, 20 de junho de 2009
let's buy happiness
19.06.2009
São manhãs, tardes
e noites.
Sempre iguais.
Distinguem-se pelo
sol e a chuva,
a calma ou a agitação.
É um louco no bus.
E é um bus que vai louco,
tanto é o calor.
Transpira-se de frio,
é o calor que só serve
para incomodar.
O outro não sei
quem mais o conhece.
Todos, presumo.
Todos a quem falta o toque.
E enterram-se os sorrisos,
dar é que não.
Vestidos de capas
ou de máscaras
andamos todos por aí.
Há olhares que se cruzam.
Um desculpa aqui,
um obrigado ali.
Estranhamente, não há
qualquer interesse.
E tanta é a necessidade.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
escrever é esquecer
"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de formas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."
Livro do Desassossego
segunda-feira, 15 de junho de 2009
above you
Saio de casa de sorriso vestido. Não, não é só o sorriso, é a boa-disposição ou tentativa disso. Saio de casa de sorriso vestido e corpo vazio, porque alma antes havia, hoje não. Primeiro estranho a luz, mas logo de seguida começo a saber saboreá-la e deixo a música que os phones dão aos meus ouvidos ditar o ritmo do meu passo. Ando depressa mas não vou para lugar nenhum. Vou andar, só. Talvez para não pensar e tentar sentir alguma coisa. Vejo verde, vejo azul, vejo bege. Não sei, acho que se tivesse que escolher as três cores deste cenário onde tenho vivido nos últimos meses seriam essas. É claro que estou a falar nesta altura do ano, porque durante uns oito meses não se passeia por aqui outra cor que o cinzento. Eu acho bonita, esta tonalidade de agora. Respira-se bem. Dentro de casa não, dentro de casa nem consigo dormir de tão mal respirar. Mas na rua o ar é agradável. E ao pé do lago quando fecho os olhos quase que me sinto na praia, o cheiro quase que é parecido. Páro sempre à beira-lago ou na relva de um parque ou num banco de jardim. E fumo. E fico horas ali. Sabem-me bem essas horas. Não sei se é saberem bem, mas é saberem a algo. Às vezes um sorriso partilhado com um estranho que está sentado no banco ao lado face a uma situação engraçada, outras a sensação de ser útil só porque me vêm perguntar as horas, pedir um cigarro, saber onde fica a Gare. Ou ainda e apenas um olhar. Que eu gosto de analisar até à exaustão, que gosto que fique a pairar na minha mente até surgir o próximo, só para ter algo com que entreter o meu sorriso. É que em tempos de solidão, olhares parecem abraços, sorrisos sabem a beijos. Qualquer gesto direccionado a nós é afecto. É certo que outras vezes escrevo, como agora. Mas acho que é porque não consigo controlar o facto de estar a sentir alguma coisa, de tão desabituada que estou. E preciso de exteriorizar, preciso de partilhar, preciso de não ter em mim, ai. Preciso de viver. Nunca me esforcei tanto como agora para me sentir viva. E quem me conhece deve saber. Quem me conhece sabe que eu preferia casa a rua, que eu preferia solidão às vezes, silêncio a maior parte do tempo. E agora parece que cada célula do meu corpo pede acção, já não aguento viver fechada em mim, não quero continuar a caminhar em direcção à loucura e a solidão tem sido minha amiga demasiado tempo. Eu que nunca fui de abandonar os meus amigos, sobretudo os que me acompanham constantemente numas quantas voltas de 360° que o círculo dá. Sinceramente não acredito que consiga abandoná-la, afinal os beijos e abraços de hoje (ou olhares e sorrisos, se preferirem) não me chegaram para abdicar dela. A insegurança surgiu na caminhada com o Yaya, um costa marfinense que se ofereceu para andar comigo, para lugar nenhum, só andar. E assim que o deixei apareceu o Karim, algeriano, que queria abandonar a sua bicicleta no meio da rua para vir andar comigo também, andar, andar só, dizia ele. Embora insegura, eu sorrio a todos, deixo que conversem comigo, que me acompanhem até ao fim da rua e é engraçado como os elogios se multiplicam "és aberta, és inteligente, és bonita, casa-te comigo". E eu penso: saio de casa de sorriso vestido e toda a gente me sorri. É ridículo porque é tão fácil. Embora sorrir não o seja. E é ridículo eu só me lembrar que tenho qualidades quando converso com um desconhecido durante cinco minutos. É ridículo passar o resto do tempo absorvida em tudo o que de mau existe em mim.
Apetece-me encontrar mais gente, apetece-me partilhar. É um daqueles momentos em que sinto a força interior invadir-me! E é tão raro, passo tanto tempo a conviver com a dor que me esqueço de que não sou só fraqueza.
Vou visitar-te papá, afinal estou tão perto do bar, porque não passar e dar-te um beijo? Se há coisa que a solidão me ensinou é que devemos dar valor àquilo que temos. Parece estúpido, contentarmo-nos com pouco. Mas as chances de sermos felizes aumentam logo.
Avisto-te mal entro, afinal estás sozinho. Domingo à noite, o trabalho escasseia. E tu, workaholic como és, deprimes. Sentado no teu sofá preferido lês um livro que pousas quando me vês surgir de sorriso vestido e o teu
- salut mademoiselle
soa diferente de todos os outros.
Duas horas desde que entrei no bar e eu nem dei pelo tempo passar, mas dei pelo teu sorriso uma data de vezes. Mal conversámos, mas eu sempre soube que a minha paixão pelo silêncio foi herança da tua parte. Despeço-me com um beijo e dás-me um red bull para o caminho, está uma noite abafada e sabes que eu ainda vou andar, andar por aí.
Não ando depressa porque de noite gosto de apreciar a quietude. E as luzes e o som dos sinos das igrejas e as bicicletas que passam e os fotógrafos de tripé nas pontes de objectiva apontada à beleza.
Última paragem, num banco dos Bastions. Última ganza do dia que fumo sossegadamente mas que decido esconder ao ver uma senhora de certa idade aproximar-se do meu banco. Ela sorri-me tão inocentemente ao ver-me de sorriso vestido que sai de mim um
- bonsoir
nem eu sei bem porquê. Mas ainda bem que saiu, afinal a senhora precisava de falar, sobre o tempo, sobre a relva do parque, sobre os jovens de hoje, as viagens que fez há mais de trinta anos quando ainda tinha marido.
Chego a casa uma hora depois. Chego a casa de sorriso vestido e não sinto necessidade de despi-lo nem de fumar o que sobrou da ganza do parque. Chego a casa e olho-me ao espelho e desato-me a rir.
Chego à cama ou o que quiserem chamar-lhe e exijo música ao meu computador. Deito-me, de sorriso virado para o tecto, corpo cansado e alma tranquila. Cheia ou vazia, não sei. Mas tenho o pressentimento de que amanhã não vou ter que vestir nenhum sorriso. O truque, é não tirá-lo assim que chego a casa. O truque é viver com ele estampado na cara sem que de um acessório se trate. O truque é dar valor às pequenas coisas e saber que existem por aí lugares, minutos, seres, que têm o poder de nos preencher tanto ou mais do que aquilo que temos tendência a procurar quando buscamos felicidade.
O desafio agora é escolher entre força e dor. Agora não, que agora é hora de dormir. Mas espero amanhã ser forte. E é assim que tenho que pensar, todas as noites. Porque viver é um dia de cada vez. E hoje foi um dia em cheio: tive sol, tive pessoas (e ainda foram algumas!), o meu livro, a minha música, as minhas ruas. E soube tão bem chegar a casa, deparar-me com a solidão (sem que na verdade a tenha deixado) e rir-me com ela à gargalhada.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
a idade dos porquês é agora
Aiiiiiiiiiiiiiiiii.
Não consigo entender, que coisa é esta?
Porque é que viver é isto?
este nada com desgraça à mistura
almas vazias, vazias e sós.
porque é que enfeitaram tudo?
para que são as àrvores, as flores,
o mar, o céu azul, as estrelas?
Afinal desde sempre nos tentaram incutir a ideia de que a vida é bela.
Balelas.
Para já não sabemos o que é o belo.
O que é o belo?
As aulas de filosofia nunca responderam.
Ou então usaram a mesma resposta de sempre: é subjectivo.
Tudo é subjectivo,
Ou não fôssemos nós, almas vazias, vazias e sós,
Perdidas na subjectividade de uma individualidade
Pela qual lutamos diariamente sem nos apercebermos de que foi conquistada à nascença.
Porque nascemos?
O que estamos aqui a fazer?
Também não sabemos.
Alguém me explique então, qual foi a ideia de juntar num planeta tantas almas vazias e sós.
Juntas mas sós.
A solidão na esfera da união.
O que é a solidão?
É isto?
Mas o que é isto?
Sou eu?
Ser?
(o que é?)
Não consigo entender. Será que parar de questionar ajuda a entender alguma coisa? Ou será que toda a gente decidiu viver na ignorância? Serei eu a ignorante?
Acho que já vivi muita coisa e no entanto não me sinto viva. Terei vivido demais? Esgotou-se-me a vida e eu nem reparei? Não, surreal. Mas afinal o que é real? A dor. A dor é sempre real. Os motivos da dor, podem ser todos psicológicos. Mas a dor em si é real. Primeiro o choro, depois a revolta, a inércia, finalmente o isolamento, talvez a loucura. O ciclo vicioso da dor. E o tempo passa. E a dor instala-se, não está só de passagem. Demora-se em cada fase. Quanto tempo? Porque é que nunca sabemos quando é que vamos ter coragem para deixarmos de ter medo e arriscarmo-nos a ser felizes? Demora o tempo que precisamos para mudar. Porque é que somos todos tão fracos? E egoístas? De onde é que vem o egoísmo, afinal? Porque é que não foi erradicado ao longo dos anos? Os anos?
O que é o tempo?
Repito, o que é o tempo?
Aiiiiiiiiiii. É o mesmo do que perguntar o que é o amor.
O que é o amor?
E eu sorrio porque acho na minha inocência de corpo sem alma que pelo menos isso conheci. Vivi. Senti. Deixei que se apoderasse de mim. Deixei que me satisfizesse e depois que me destruísse. Assim. E depois perdi. Não só o amor. Tudo.
O que é o tudo?
O nada não pode existir, acho eu.
Ou será não pode não existir?
O que interessa é que até aquilo que não é nada é algo. O nada pesa. Tira forças. E não deixa nada. Ou então deixa tudo em forma de nada. Deixa por exemplo o amor sob forma de dor.
Porque é que a droga existe? Para provar que o mundo real (ou aquele em que vivemos) não é bonito. Pelo menos lembro-me de ter aprendido isto com ela.
Porque é que a arte existe? Para provar que a vida não é suficiente.
A vida não é suficiente?
Então quais são os limites?
Porque não mos mostram?
Porque é que tenho que ser eu a explorá-los?
E porque é que decidi não recorrer à arte para fazê-lo?
Porquê?
Porque é que eu não tenho quatro anos,
E ainda estou na idade dos porquês?
domingo, 24 de maio de 2009
Não consigo pensar,
Não consigo sentir,
Não consigo estar só
Mais um dia.
Vejo, observo, absorvo
Mas o quê?
Nada muda,
Tudo destrói.
E eu continuo aqui
Sem pensar
Sem sentir
Só comigo
Que já nem sou.
sábado, 16 de maio de 2009
this is not a love song
Podemos fazer de conta que
A dor foi embora
E perder-nos
No calor do nosso abraço
Que não serve
Para aquecer
Os nossos corações,
Tantas foram as horas frias
Passadas na ausência
Do amor.
Fica comigo,
Vamos saltar por entre
Trampolins de ternura
E fazer malabarismos
De afecto. De afecto!
De mãos dadas,
Faremos o pino,
Voaremos até
Onde as nossas
Liberdades nos deixarem
E nunca perderemos
De vista o caminho
Para nossas casas.
Fica comigo,
Eu só quero sentir, partilhar.
Não quero amar,
Porque amor para dar
Sinto que não tenho.
Deixaram-me sem nada
Ou então deixei eu
Que me levassem tudo.
Mas o pouco que tenho
É a ti que quero mostrar.
Foste tu quem apareceu,
Foste tu quem reparou
No vazio e na dor
Que aqui moravam.
Fica comigo,
Posso não ser aquilo
Que queres.
Mas sei que precisas
De mim, ou pelo menos,
De alguém.
E eu sou alguém
Que te quer bem.
(Não sei se sabes que)
A minha vida
Ganhou um novo sentido
Com a tua chegada.
E às vezes penso
Que se tiveres que partir
Prefiro que seja já.
(E no entanto,
não consigo evitar pedir,)
Fica comigo.
Porque as horas
Não custam a passar
Quando estás aqui.
O meu sorriso,
Afinal existe.
E os teus olhos.
Os teus olhos,
Pousados em mim
São um beijo
De boa noite
Que tu não sentes
Mas me dás.
Fica comigo,
Mesmo que saibas
Que não sou uma
Pessoa feliz.
Eu estou bem,
Contigo.
Eu estou bem,
Comigo.
Só preciso
Que me deixes
Entrar nesse
Teu mundo.
Afinal duvido
Que seja muito
Diferente
Do meu.
Fica comigo,
Ou pelo menos
Deixa-me tentar
Ficar contigo.
O medo é muito
E sabemos que
O amor é dor.
Mas eu só quero
Olhares de boa noite
Sorrisos de companhia
Abraços de reconforto.
És a única pessoa
Que me dá isso.
Por isso não partas,
Fica comigo.
terça-feira, 28 de abril de 2009
28.04
Lembro-me deste dia, há cinco anos atrás. Cinco anos. Às vezes parece-me uma eternidade, outras vezes a memória encurta a distância do passado. Pouco importa, há cinco anos eu não era isto. Tu não eras isso. Mas o mundo era este, nós é que achávamos que não. De nós os três acho que ele é o único que vai mais ou menos seguindo o mesmo caminho, mesmo que saiba que nunca irá chegar a lado algum.
Que é feito de ti? Não sei. Se queres que te diga, perdi a vontade de saber. Não há lugar nem motivo para seres algo em mim. Se te dissesse isto olhos nos olhos, sei que te irias rir. Porque sabes perfeitamente que te eternizaste em mim e que haverá sempre um espaço para ti, um tempo para te recordar, pelo meio das muitas horas vazias que vou percorrendo no meu caminho, que hoje é tão diferente do teu. E então? Se soubesses como estão vivas na minha memória tantas outras situações, que não me provocam o mal que tu me fizeste... Posso sempre recorrer a elas em vez de pensar em ti. A escolha é minha, sempre foi. E eu escolhi-te a ti, há cinco anos. E voltei a escolher-te, todos os dias da minha vida, a seguir a esse, no início porque a tua presença na minha vida me proporcionava um bem-estar que nunca antes eu tinha atingido, depois porque a dor provocada pela tua ausência, pelo teu desaparecimento, foi durante muito tempo a única coisa a que me pude (ou quis) agarrar para te reviver, para nos reviver.
Não sinto nenhum rancor, ódio ou raiva por ti. Demorou tempo, é certo. Sei que foi contigo que aprendi o amor e foste tu também quem me ensinou que posso acolher dentro de mim todo o tipo de sentimentos. Do melhor ao pior. Hoje guardo apenas os bons, porque me cansei de ser infeliz num mundo irreal. Se é para ser infeliz, que seja neste mundo onde as coisas existem, onde as pessoas se falam e os sentimentos são de agora. Porque ficar no passado para se ser infeliz, é o mesmo do que nos visualizarmos num futuro feliz. Recordar e idealizar, tudo acaba por ser irreal. Gostava de conseguir banir da minha vida estes dois conceitos, mas acho que deixaria de existir caso tal acontecesse.
Pela primeira vez na minha vida, estou a tentar viver no presente. Ao descobrir a amizade, depois de ti, fiquei a saber que existem outras formas de amar. Que nos fazem menos mal e que nos podem preencher igualmente se assim o quisermos. Mas infelizmente eu faço parte daquelas pessoas que querem sempre mais, que nunca estão satisfeitas com o que possuem, talvez consequência de uma idealização excessiva, da busca de uma perfeição que tenho consciência de não existir. Mas isso sempre fez parte de mim. O que muda, não muito frequentemente, porque gosto de ficar presa a uma ideia durante muito tempo, é o objecto da minha idealização. E neste momento, posso dizer que sinto a mudança invandir-me. Sinto que já não és tu, já não é o nosso nós que eu idealizo. Sinto-me Dalí, sem que tu o sejas. Sê Picasso, sê o que quiseres. Sê feliz, ri, ama, chora, cresce, sente, dá a volta ao mundo. Sê tudo o que não pudeste ser comigo, que eu também não vou deixar fugir a oportunidade de poder ser algo sem ti. Ser algo melhor sem ti. Sozinha ou de mão dada com alguém, alguém que não sejas tu.
terça-feira, 10 de março de 2009
(à bout de souffle)
Hoje nem sequer vou escrever. Isto não são palavras, são sentimentos ou qualquer coisa que vem de mim. Não é beleza, é sinceridade, sou eu a gritar por toda a parte. É a raiva que eu deito fora todos os dias porque não gosto de viver com ela, porque prefiro a tristeza e a melancolia e a depressão. Porque será sempre melhor ser-se depressivo e inerte e neutro fechado no seu mundo, do que ser-se estúpido ou maldoso ou agressivo para os outros. É a única justificação que eu arranjo para aquilo que eu sou. Talvez seja isso, talvez seja a fuga a uma coisa que me impede de libertar-me de outra. Não quero nem saber, eu não estou a pensar, eu nem estou a ler as frases para ver se fazem sentido. NADA faz sentido. Ou então tudo tem o mesmo sentido, o do abismo. O do fim. O da loucura. Há alturas em que só estas palavras me dizem alguma coisa. Que se fodam os outros, hoje. Não quero saber se os magoei, se não fui correcta, se alguma vez na vida senti o que foi ser egoísta. Estou-me completamente a cagar para aquilo que provoquei nos outros. Porque eles não fazem nem ideia daquilo que eu já passei por eles, tudo para não lhes ter raiva ou ódio ou desejá-los mortos. É que já é algo automático que faz parte de mim, se por acaso sinto por um efémero segundo alguma dessas coisas, logo de seguida, PAM! estala a depressão ao seu mais alto nível e a culpa e a dor e o ódio a mim mesma por tais pensamentos me terem ocupado a mente. Mas qual mente? Quais pensamentos? Isto são emoções, se eu pensasse não pensaria em nada disso. Ai meu deus, até já chamo por ti que sei que não existes. Se odeio alguém por mais que um segundo deves ser tu, porque sei que não existes e no entanto és culpado de tanta coisa neste mundo, que incrivelmente, tem gente que te ama mais a ti do que aos amigos ou à família. Como?? Como é que num mundo em que tal situação é possível pode existir alguma coerência? É por isso que nada faz sentido. A culpa é tua. Não é só tua, mas também é tua.
Apetece-me dar murros às pessoas às vezes. Nunca o faço. Então porque é que dou murros às paredes e a mim mesma, porque é que me drogo quando sei que me estou a destruir e quem eu quero destruir não sou eu, mas sim quem me levou a mim à destruição? Mesmo que seja por um segundo, sim. Apetece-me injectar cada uma dessas pessoas com este novelo de sentimentos de merda com que elas me deixaram. Para que os possam sentir, pelo menos uma vez. Para que me possam sentir pela última vez, mesmo que não queiram. É que deviam, não sabem a intensidade que estão a perder. Eu é que já não preciso de me drogar para partir em bad trip. Sorte ou azar, não sei. Mas tudo voa no mesmo sentido.
Hoje mando toda a gente à merda. Podia morrer, que ninguém se apercebia. Neste momento ninguém ousaria sequer pôr a hipótese. Ninguém sentiria a dor que vai misturada com esta raiva e este ódio a não sei bem quem por causa de não sei bem o quê. MAS A DOR PELO MENOS É REAL. E eu também, ao que parece. Qual parte de mim, não sei, pouco importa, são demasiadas partes para analisá-las todas e é por isso que estou a dar em doida.
Mas sei que se morresse, amanhã todos chorariam. Todos. Todos aqueles que neste momento se estão a cagar para o que me atravessa a cabeça. Da mesma maneira que eu amo (repito, AMO - porque felizmente? sei o que isso é) todas as pessoas por quem sinto ódio ou raiva durante um segundo perdido no meio do tempo. O problema é o tempo, merda para o tempo, que morram as horas e os minutos de desespero, os segundos de ódio e de raiva.
Normalmente choro, hoje escrevo. Não é escrever, tal como não tem sido chorar. Tento libertar-me mas cada vez mais me prendo àquilo que me faz mal. Àquilo que me enloquece.
Dão chuva para amanhã. Respiro fundo, mentalizo-me de que vai chover amanhã e pronto. Talvez no próximo ataque de raiva que me der, me dê para mandar a chuva à merda e tudo esteja na consequência deste suspiro de agora. Hoje foram as pessoas que não sei bem quem são nem o que me fizeram. Mas são e fizeram-no, disso estou certa. Porque eu também já fui e também já fiz e é por isso que hoje vivo assim.
E se ousarem perdoar-me, pouco importa, porque eu nunca me perdoo a mim mesma.