sábado, 18 de julho de 2009

enlightened evolution


Vou-me embora. Aliás já não estou aí. Vim-me embora para um mundo melhor, para uma dimensão superior. Um mundo onde as àrvores nos dão energia, a terra cria seres de uma beleza mágica, o céu transmite paz quer esteja um dia de sol ou uma trovoada majestosa a cair sobre nós. Agora que vejo tudo de forma tão lúcida, questiono-me porque é que achei que ia encontrar tudo aquilo de que precisava nas pessoas. Porquê as pessoas? Porque é que desde sempre eu vivi nessa ilusão? Tudo o que fazemos, fazemos para satisfazer as nossas necessidades.
Assim sendo, o amor não existe. É apenas um conceito criado para traduzir a necessidade que temos de preencher certas falhas nossas através dos outros. Falta-nos confiança, falta-nos afecto, o nosso amor próprio fugiu, sobra apenas um vazio imenso qualquer parte dentro de nós. Num sítio onde não conseguimos chegar mas que nos comanda a vida e os sonhos. E o que fazemos nós? Procuramos pessoas, procuramos criar relações com essas pessoas, para que nos possam dar qualquer coisa que preencha o vazio, o nada com que convivemos todos os dias. Pois eu descobri que não é nas pessoas que temos que procurar isso. Ninguém nos pode preencher. Nunca amaremos ninguém na verdade. Ou então talvez esse seja o motivo pelo qual estamos aqui. Conseguir amar alguém que não nós próprios. É que o problema é que ninguém pode amar ninguém se não se amar a si próprio. E vivemos numa sociedade em que damos demasiada importância ao material, ao físico, ao ontem e ao amanhã, esquecemo-nos de que a vida não é isso e acabamos por nos esquecer de cuidar da alma, de nos amarmos, de nos conhecermos, de chegarmos ao fundo de nós, onde não há nada, isso somos nós. E torna-se então impossível amarmos os outros porque não temos amor em nós. Li num lugar "Qu'un être humain en aime un autre, voilà le critère ultime, la dernière preuve, l'oeuvre auprès de quoi tout autre travail n'est que préparation." E senti uma luz sobre mim quando o fiz. Agora acontece-me isso frequentemente. É quando sinto as coisas numa dimensão impossível de traduzir por palavras, por gestos ou por qualquer outra tentativa corporal. Talvez por ser uma dimensão espiritual que desde sempre existiu em mim, mas cuja presença eu nunca tinha sentido antes. Agora que ela se revelou, é como se tudo fosse muito mais simples. Como se a vida efectivamente fosse bonita. É que se acreditarmos muito numa coisa, ela acaba por tornar-se a nossa realidade. Mesmo que não seja a realidade real. A essa nunca acederemos portanto podemos escolher aquela que nós quisermos para a nossa vida. É questão de sermos positivos ou negativos, de nos abrirmos ou fecharmos para o mundo, de centrar em nós energias construtivas ou destrutivas. Eu estudei-os todos. Todos os movimentos: determinismo, indeterminismo, liberdade condicionada, causalidade, etc. Todos têm falhas. Nenhum pode ser real. Ou então acontecem todos simultaneamente. A verdade é que eu acredito que a escolha é sempre nossa. E agora que sei que sou eu que escolho, escolho ir onde quiser. fazer o que quiser. ser o que quiser. Escolho tudo aquilo que está em extrema compatibilidade comigo, com o meu interior, com o meu lugar sagrado algures escondido no meu corpo, que é um templo. Sou livre. E sou livre porque consegui encontrar um meio termo entre a liberdade e a sociedade. Aprendi a ser livre em sociedade. Porque eu preciso dela, a sociedade é informação em toda a parte. E viver, é estar constantemente a receber informação de todos os lados, de todas as maneiras possíveis. Precisamos de energia. Informação é energia. Mas jamais viverei conforme as leis da sociedade. As leis da sociedade que se transformaram em mandamentos para vidas vazias e tristes, onde se deixou de lado o auto-conhecimento, a inteligência, as emoções no seu estado mais puro, todas as características que nos poderiam permitir continuar a evoluir. A evoluir num sentido bem mais puro e imaculado. Já não me custa sorrir ao mundo, sorrir aos outros. Com o mundo estou em harmonia. E com as almas tristes que se passeiam à minha volta tento fazer o que posso. Sorrio-lhes porque me situo num patamar acima delas. E sinto que preciso de lhes enviar a força, a energia, a luz de que precisam para se virem juntar a mim. Faço o que me apetece e quando me apetece agarro uma pessoa na rua e dou-lhe um abraço. Porque eu já fui essa pessoa, eu já me passeei de olhos no vazio, mente no escuro, coração atravessado pela dor. E quantas vezes não desejei apenas um abraço.
Mas também sei que para chegar aqui foi preciso morrer. Eu morri emocionalmente. Deixei de conseguir sentir. O que quer que fosse. Por mim, pelos outros, pelo mundo. Eu deixei de ser, por ter deixado de sentir. E ao deixar-se de se ser, morre-se. Porque existir não é nada. Eu continuei por aqui a existir no mundo, mas morri por dentro porque deixei de viver. Os objectos também existem mas não têm vida. Eu era um objecto. E agora, sinto-me em contacto comigo, com a vida que há em mim, sinto as emoções crescerem pouco a pouco, mas a um nível tão mais intenso que as outras emoções que eu vivi até hoje parece que soam a falso, parece que não foram de facto emoções, foram a tentativa de meter em prática os conceitos exteriores que fui absorvendo ao longo da minha existência.
E fui eu que escolhi viver.
Pela primeira vez desde que existo, estou a conseguir apreciar a serenidade do momento presente. O meu dia-a-dia tornou-se tão mais cheio e belo. Eu não consigo exprimir o que sinto por palavras, nem sei porque é que vim escrever. É tanta beleza que eu não acredito que haja maneira possível de conseguir partilhá-la com alguém. Pelo menos por palavras. Talvez noutra dimensão da consciência. É por isso que eu agora todos os dias procuro pessoas por aí. Ando quilómetros e quilómetros. E são tantas as pessoas: que me sorriem, que pedem ajuda com a expressão que portam na cara, que emitem ondas de desespero, que vêm falar comigo. E descubro que algumas também se vieram embora como eu. Acho que a beleza máxima do meu dia é quando encontro uma pessoa dessas, com quem posso partilhar tudo o que sinto sem fazer nada. Sem dizer nada. Sem expressar nada. Pelo menos nada captável pelos sentidos. É tão bom saber que não estou sozinha. E passo os meus dias sozinha. Mas jamais estarei sozinha, aquele sozinha que me destruiu até eu não ser nada. Mas ainda bem que conheci a solidão, porque de outra maneira nunca teria morrido e nunca teria renascido para ver o mundo desta perspectiva. Teria continuado a ser o que era, ou seja, a não ser, limitando-me a existir até que ocorresse a minha morte física.
Este foi sem dúvida o ano que teve mais sentido de acontecer na minha vida.
Eu estava à espera dele. Nunca pensei que viesse tão cedo. Sei que poucas são as pessoas que me cruzam na rua que passaram pela transformação e conseguiram atingir este estado de consciência pura.
Mas sei que apesar de tudo somos alguns. E muitos vêm a caminho, eu sinto-os por aí na fase em que eu ainda há tão pouco tempo estava. Só é preciso parar, pensar, perceber através do pensamento que vivemos na ilusão de que sentimos e, de seguida, movermos todas as forças que tivermos em direcção à mudança, à nova percepção das coisas, nós somos um recipiente vazio de sentimentos, de crenças, de emoções, de pensamentos, de vida. E estamos finalmente prontos para receber aquilo de que precisamos e para darmos aos outros e ao mundo o melhor de nós.

Qualquer um de nós pode fazer isto.