quinta-feira, 25 de setembro de 2008

la groupie du pianiste

O meu desejo é somente deixar de ser piano, para poder ser pianista, uma vez na vida. Doem-me as teclas, que tu quase partiste. E como não me contento em ser apenas a amante do pianista, porque isso ao lado de ser o piano, não é nada, acho que vou esperar que quebres com violência todo o meu teclado, para poder, finalmente, sentar-me diante de outro piano qualquer e estimá-lo como tu deverias ter-me estimado. Até lá, andarei por aí, que nem um piano desafinado, velho e sujo, cheio de recordações por debaixo da cauda pesada.

"Elle fout toute sa vie en l'air
Et toute sa vie c'est pas grand chose
Qu'est-ce qu'elle aurait bien pu faire
A part rêver seule dans son lit
Le soir entre ses draps roses

Elle passe sa vie à l'attendre
Pour un mot, pour un geste tendre
La groupie du pianiste

Devant l'hôtel dans les coulisses
Elle rêve de la vie d'artiste
La groupie du pianiste

Elle le suivrait jusqu'en enfer
Et même l'enfer c'est pas grand chose
À côté d'être seule sur terre
Et elle y pense dans son lit
Le soir entre ses draps roses

Elle l'aime, elle l'adore
Plus que tout elle l'aime
C'est beau comme elle l'aime
Elle l'aime, elle l'adore
C'est fou comme elle l'aime
C'est beau comme elle l'aime

(...) "

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

pensons à l'avenir, bébé!

Caminhar por ruas desconhecidas e sentir-me livre. Tão livre. Para ser quem quiser, para agir como me apetecer, para deixar de me limitar a pensar de acordo com o que sinto, sem demonstrá-lo a quem me rodeia. Porque quem me rodeia não faz ideia, mas tem direito de não fazer ideia. Finalmente, estranhos. Novas caras, a cada minuto que passa. Não corre brisa, abafa-nos o ar parado e quente sem deixar arrefecer o que portamos cá dentro. Sento-me num banco de jardim e observo a água do lago, que não sei bem descortinar de que cor é. Talvez bem azul, talvez um pouco esverdeada, como tu tanto gostavas. Apetece-me mergulhar. Não nesta água, mas na tua ausência que não se sente como outrora. Faz sentido esta vida sem ti. Fazem sentido as horas passadas no meu sofá laranja onde nunca estiveste. Nem me custa fazer o mesmo caminho todos os dias, porque nunca o fizeste comigo. É até agradável caminhar por aqui e não há sítio que me traga más memórias nesta cidade. Por vezes perco-me. Não nas ruas desconhecidas, mas nos meus pensamentos, porque não há necessidade de parar, eles não destroem como fizeram durante tanto tempo. São, aliás, a base para construir tudo o que está para vir. E o que está para vir não pode certamente ser pior do que tudo aquilo que passou.
E é bom conhecer gente de todo o mundo, sentir-me uma cidadã do mundo. Quase que sinto vontade de comprar um dossier e arranjar um projecto novo. Quase que sinto vontade de dizer não ao teu amor e ao de quem quer que seja que apareça para me amar a mim mesma. Quase que sinto vontade de deixar de te ter cá dentro para poder ocupar este espaço com outros sentimentos que não este tão carregado de mágoa e de tristeza. Eles não sabem como é bom mudar de vida. Eles desconhecem por completo o amor e as loucuras que ele nos faz cometer. Eles acham que é fácil, que não há razões que justifiquem os nossos actos, mas nós conhecemo-las todas e queríamos tanto que nunca tivessem existido.
Não vou ficar por aqui muito tempo. Tenho cinco continentes por explorar, biliões de pessoas para conhecer, milhares de dias novos com ou sem sol à minha espera. E todas as noites, quando me deitar, vai ser em ti que vou pensar. Mas sei que vou sorrir porque não és tu quem me vai fazer falta. Não será mais o passado que me fará falta. Será o dia seguinte. Porque vou querer mais e mais, mesmo sem saber até onde poderá ir o mais. Não vou fazer grandes planos, não me vou agarrar a nada, nem a pessoas nem a lugares, porque ficar de novo presa, só se for a um caixão. Nem isso, as minhas cinzas hão de ser espalhadas em diversos lugares para que eu não sinta o sufoco de um só local a entrar-me pelo corpo. Porque a alma, estará bem longe. Fora daqui, fora de ti, fora do que fui. Mas repleta de vivências que ainda agora começaram a florescer-me na pele.
E se eles soubessem como é bom poder, finalmente, aprender por mim própria, sem dar por mim fechada num cubículo com mais vinte pessoas que pensam que o que lhes é dito é verdadeiro. Sem ter que ouvir alguém disparar informação que alguém inventou para que outros a absorvessem. O que os outros viveram e descobriram é parte deles, nunca percebi porque é que faziam tanta questão que fizesse parte de mim também. Agora posso escolher o que quero que faça parte de mim. E tu, não constas na lista de opções. Tu, serás apenas um telefonema no primeiro dia de Outubro, umas palavras num papel quando o coração assim o ditar. Mas jamais serás o futuro. E tudo o que importa agora, é isso mesmo. O futuro sem ti.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

l'horloge fleurie

Como a vida é irónica! Durante meses deixei-me invadir pela angústia de um tic-tac apressado que certamente ditaria o fim de alguma coisa. Mas nunca pensei que quando o ponteiro acabasse de dar a sua volta, não se ouvisse mais tic-tac algum. Agora passeio por ruas que de uma ponta à outra são ocupadas por montras com relógios, enfio-me num Jardin Anglais que tem um relógio feito de flores, deparo-me com cartazes coloridos por letras grossas que compõem a expressão "Cité du Temps", as pessoas correm todas para um qualquer lugar arregaçando a camisa para darem uma olhadela no pequeno objecto que lhes veste o pulso. E eu, não ouço tic-tac nenhum. Não trago no pulso relógio algum. A agenda, está por estrear. Não importa se o mês que se segue é Outubro ou Novembro, nem quanto tempo falta para o Natal. Não corro para lado algum, não tenho quem me espere numa qualquer ponta desta cidade, nem te tenho comigo a dar pelo tempo passar, ouvindo um tic-tac que desta vez não seria angustiante, mas antes um tic-tac esperançoso, ansioso por um reencontro. Pouco importam os reencontros, agora. E de cada vez que um tic-tac acaba, nasce um novo para alguém. Aposto que a esta hora já sentes o ponteiro avançar. Comigo nunca é assim, há tic-tacs que se eu pudesse, faria com que durassem uma vida, mas como ninguém controla o tempo (ele nem existe!) vejo apenas o ponteiro ficar parado no sítio em que ele escolheu deixar de tic-tacar.