terça-feira, 4 de janeiro de 2011

feelin' the same way


Não me lembro.
Não me lembro de como foi
A minha última broa.
Nem sequer me lembro
Da última vez que abracei
ou beijei ou respirei alguém.
Os telemóveis que são três,
Todos desligados há um mês.
Venho aqui, aliás, fico aqui,
Contigo, que agora és,
O meu único amigo.
Uso-te para estudar,
Para dar notícias à família,
Para tudo o resto.
Então como estás?
Ontem bem, hoje menos.
Amanhã logo se vê.
Já aí não vou, a casa(?),
nem sei desde quando,
porque não há motivo para ir.
Tal como não o há para ficar,
Aqui, nesta casa,
Que ainda não viu viver.
Que ainda não viu ninguém,
Só eu. Coitada, tenho pena.
De mim não tenho pena,
Afinal deixo-me ficar.
Quando saio à rua estranho
O sol. Que aqui é tanto,
comparado ao outro sítio.
O sol. Fico à varanda,
Vejo-o deitar-se atrás
das montanhas brancas,
sempre que ele se deita.
É o único calor que sinto,
O do sol. Bem cá dentro.
Só me passeio na cidade,
De madrugada.
Quando o sono não veio,
E eu deixei-o ir,
mais uma vez.
Não há ninguém.
Há. Há o rio, que lá para as 8,
reflecte enfim os primeiros raios
De sol. Mas nem sempre.
Hoje sim.
Não sei o que foi feito,
Das minhas horas
Enquanto o sol dormiu.
Estive aqui, estive por aí,
Não faço ideia de onde,
Nem como nem porquê.
Volto a casa,
Quando vejo pessoas.
As pessoas são horríveis.
E eu sorri enquanto
Acreditei que não.
Ou pelo menos enquanto
Acreditei que eram horríveis,
Mas que no fundo tinham
Algo bom para partilhar.
Elas não são horríveis,
São vítimas do horror.
Não importa, hoje são
Horríveis e nada partilham.
Hoje, que não sei o que é,
Hoje, não acredito em nada.
Amanhã ou noutro dia,
Sei que sim. Espero que sim.
Temo que não.


Grenoble, 28.11.2009