terça-feira, 29 de dezembro de 2009


“One day Alice came to a fork in the road and saw a Cheshire cat in a tree.
Which road do I take? she asked. Where do you want to go? was his response. I don't know, Alice answered. Then, said the cat, it doesn't matter.”

domingo, 27 de dezembro de 2009

the four noble truths


There is suffering.
There is cause for suffering.
There is cessation of suffering.
There is a path leading to the cessation of suffering.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Tatiana,

Desengana-te se crês no destino mas não fiques à espera do acaso
Nem fiques à espera de nada porque a vida não pode ser uma espera
E se perceberes que a vida e o mundo em que vives são duas coisas
Podes escolher salvar a primeira se decidires não penetrar na segunda
Mas percorre com os teus olhos e com a tua alma esse mundo penoso
Consciente de que muito pouco ou mesmo nada poderás cambiar
Por mais abundante que seja a tua vontade e sublime a tua força.

Lembra-te que é possível contemplar cada dia com um novo olhar
E que mais vale deixá-lo perder-se nesse mundo medonho e triste
Do que decidires tu ficar num universo quimérico que criaste só
Na ânsia de achares essa perfeição agradável aos sentidos e à alma
Para decobrires um dia que se transformou numa desgraça só tua
E que lá fora esse mundo desprovido de cor continua o seu rumo
Repleto de almas vazias mas longe do fim ermo a que tu chegaste.

Não existe liberdade para que o ser hedonista que vive em ti
Sacie as fantasias que deixaste crescer sem dares por isso
E não procures consentimento para que a tua dor seja exposta
Porque esse é um acontecimento proibido no seio desse bando
Que trata com desprezo e repulsa as emoções castas e sentidas
A favor de devoções fingidas e de lugares malevolentes do eu
Que essas almas adoptaram criando um nós sombrio e venenoso.

Não te percas na eloquência dos que se dizem felizes ou capazes
Pois as palavras intensas só servem para pintar máscaras às vidas
Dos pobres incapazes que tomados pela fraqueza ou pela ignorância
Não procuram nunca ser algo para lá do mundo que hoje habitam
E que não conhecerão nunca a beleza e a suavidade de um amanhã
Que por mais éfémero que seja trará esse deleite que é o amor
E encherá assim o mundo dos que sentem com essa aura magistral.

Então sente e entende que para que possas sentir não deverás ficar
Nem no mundo das almas tristes nem no teu universo vácuo de verdade
Tem que haver outro lugar onde o amor fique no hoje e no amanhã
Nem que para isso precises tu de desenhar esse lugar dentro e fora de ti
Onde pouco importará se as horas de partilha verdadeira existem ou não
Desde que saibas que vives essa beleza colossal que existe só em ti
Que mais ninguém vê nem aborve mas que tu, mesmo só, mereces viver.

Sempre tua e por hoje só tua,
Tatiana










sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


"Et de quel droit je me dois de suivre vos lois

Puisque la portée de mes pensées ne va pas jusque-là?
Et de quel droit je me dois de suivre vos lois
Puisque la liberté de me pensées s'est créée avant ça?"

sábado, 5 de dezembro de 2009


Hoje saí à rua. E deparei-me com a morte. Desta vez não foi das almas, nem das ruas, mas do que está à volta, do que já antes estava. As àrvores despidas de cor, as folhas não estão. Os animais não sei para onde foram, o céu chora e o rio está cinzento. Nem verde, nem azul, nem mesmo castanho de sujo. Cinzento de triste, apenas.
Olho para tudo, para todo o lado, para todos os mortos. Tudo continua aqui, mas tudo está morto. Deixei as pessoas, as luzes, o ruído e tudo o resto lá em baixo. Aqui em cima, na montanha semi-pintada de branco, só silêncio.
Hoje sou uma alma vazia e triste, no meio da natureza morta. Hoje choro com ela, para não chorar sozinha, porque sei que partilhamos a mesma dor. É que hoje percebi, que todos os anos eu morro com ela. Só para sentir a beleza de renascer, essa sensação que as pessoas que se crêem sempre vivas desconhecem. Essa sensação louca de mandar a dor embora e de ter em mim, outra vez, o universo, sem ter mais nada porque nada mais será preciso. Esse prazer de saber que os sentidos nunca estiveram tão vivos, porque a beleza entra por todos eles, como se quisesse esgotá-los, como se quisesse deixá-los em extâse, não podendo nunca acabar com eles.
Ai, contar os dias e os meses para os primeiros raios de sol, de sol verdadeiro. Não é felicidade, nem alegria, nem nada que nós tenhamos inventado. É sentir deus em mim, esse deus que não é nem nunca foi, mas que está. É fazer amor com a música, durante horas, podia mesmo ser durante dias, num cenário de árvores esvoaçantes, a olhar para o céu estrelado, e atingir esse orgasmo espiritual, que não se pode partilhar com ninguém, mas que se partilha na mesma porque não se é sozinho. É essa beleza cósmica que não se pode comparar a nenhuma outra, que vive em mim. E da qual eu vivo, nesse dias de sol.
Nasci pela primeira vez numa madrugada da primavera, e sei que desde então, todos os anos tem sido assim. Amei, também pela primeira vez, mesmo sem saber o que era amar, numa primavera dessas cheias de vida. Morrer para renascer na primavera, com as árvores e as flores e os animais, que me encontram e não têm medo de mim. Viver e ser e sentir, longe de tudo isto que há agora, que sempre há. Ou no meio de tudo isto, ignorando tudo isto. E sorrir. Porque sorrir sabe tão bem, quando vem a vontade. Quando é a vida em mim que sorri e não eu. Quando o sorriso é para mim e para toda a gente.
É não ser mulher, nem homem, nem sequer animal, porque é ser para além disso. Porque se a vida está, o amor também. E o amor não tem nem nunca terá limite, nem forma, nem tempo. Quase que me apetece dizer que nem cheiro, nem sabor, nem cor. O amor é aquilo que nunca será dito nem visto, pois só tem que ser sentido. E ser sentido para lá do cheiro, do sabor, da cor. Sim, para lá dos sentidos. Para lá de uma mulher, de um homem, das árvores, dos animais. O amor é aquilo que se sente só em nós. É sentir em nós esse homem e essa mulher perdidos por aí, essa criança que já é tanto sem sabê-lo e que talvez nunca o saiba, esses pássaros que transformam a atmosfera em melodia ao acordarem, essas árvores que dançam e que nós respiramos todos os dias.
O amor é aquilo que devia ser. Todos os dias, em todos nós.
Num mundo de amor, esse amor que a natureza sabe mas que poucos homens conhecem, não seria preciso cair com as folhas a cada outono, deixar-se morrer no inverno. Esse amor que eu sinto quando renasço, na primavera, e que dura enquanto dura, seria suficiente para o resto do ano, para o resto do tempo, para o infinito, para todos nós, para lá de nós, se todos conseguissemos numa primavera destas, perceber que nós somos a natureza e que se tivermos amor para dar, esse amor tão difícil de conhecer de tão escondido que anda, se tivermos esse amor em nós, num tempo que não é por ser eterno, há uma parte da natureza que nunca irá morrer.