quinta-feira, 26 de junho de 2008

Who needs enemies?

Num instante apenas, o sorriso de orelha-a-orelha, o olhar profundo, a textura aveludada da pele e a brisa suave da respiração desaparecem para dar lugar a um monstro de dimensões enormes, pronto a atacar. Tudo o que não se sabia, sabe-se agora. Segredos que permaneceram tranquilos no interior de alguém deambulam agora à superfície do oceano até chegarem a mim, permitindo-me conhecer um pouco mais do pescador que os guardou. E é então que tudo o que eu não entendia antes, começa a fazer todo o sentido. É só encaixar as peças do puzzle do terror que me foi destinado. Vezes sem conta.
Será que vale a pena continuar a acreditar na bondade dos outros? Por mais que eu tente fugir à realidade, tenho que aceitar a terrível verdade. As pessoas más existem. Porque é que eu insisto em mantê-las perto de mim, mesmo depois de todo o mal que me fazem? Talvez a solução passe por tirar umas férias desta gente.


sábado, 14 de junho de 2008

rechute II

Para onde terá ido? Não o encontro. Há-de estar algures por aqui, não acredito que tenhas conseguido tirar tudo de mim, até isso. Dou por mim a querer amar, mas não consigo. Para onde foi o meu amor? Para onde fugiram aqueles sentimentos que eu gostava tanto que morassem em mim?
Surgem novos sorrisos, novas mãos para apertar, novos corpos por explorar. E eu olho para eles e apetece-me abraçá-los a todos, tenho vontade de pertencer a alguém outra vez, de proporcionar felicidade através de um beijo. Mas depois nenhum deles é como tu, não há nada no calor dos novos corpos que me aqueça como tu o fazias. Sei que não te estou a substituir quando faço com alguém coisas que eram só nossas, mas é inevitável não pensar em ti quando o faço. É por isso que me farto tão rapidamente de viver momentos desses com alguém. E acabo por ter dias como o de hoje, em que nem dou pelo tempo passar, enfiada de pijama na cama, envolta por uma atmosfera vazia de afectos e de pessoas, achando que me vou sentir melhor assim. É pura ilusão. Não me sinto melhor, nem pior. Tenho comigo as lágrimas e a tristeza por saber que jamais entrarás neste quarto e te deitarás comigo, aquecendo-me o corpo, devolvendo-me o sorriso, transformando em magia cada um dos meus gestos. Tenho saudades de te desenhar nas costas com os dedos, desenhos imaginários, que tu procuravas descobrir o que significavam. Significavam amor. Tudo significava amor, entre nós. E se soubesses as mãos que já tentei encaixar na minha, para ver se entre elas iria nascer algo que me preenchesse tanto como o fazia o espacinho que ficava entre as nossas...
Já não tenho saudades da nossa vida, da nossa rotina. Agora tenho uma nova que me vai abstraíndo do passado e não penso em ti como antes. Nem seria capaz de trocar a minha nova rotina por ti, neste momento. Acho que sair desta rotina, só quando perceber que cheguei ao fundo e já não dá mais, como aconteceu connosco. Mas quando estou sozinha nesta cama, não encontro calma. O meu coração bate tanto, tal como de cada vez que eu te vejo. Ainda parece que quer saltar de cada vez que os meus olhos pousam em ti, não sabes como é mau sentir isto, como dói nem sequer um olhar ver retribuído. E é ridículo estar para aqui a escrever-te coisas que não tens qualquer interesse em ler, num lugar que desconheces, que nunca te quis mostrar por saber que não irias gostar de conhecer. Tenho a certeza de que não tens noção da gravidade, não imaginas que isto tem sido assim por estes lados, pensas que estou minimamente bem, embora de vez em quando não aguente mais e te mande uma mensagem, que é um grito que tu ouves e ignoras. Mas pensas que são momentos de fraqueza, aposto que também já os tiveste. Mas não são. São os picos, o clímax de uma vida que mata, momentos em que já nada faz sentido e eu ainda te procuro como se me pudesses oferecer algo que me deixasse bem. Nem um sorriso. Nem disso és capaz. E já foste capaz de tudo, já foste a vida e a morte para mim, já foste o que há entre e para além disso, já foste o amor, a dor, foste o motivo pelo qual sonhar fazia sentido. Foste tudo e aos poucos vais-te transformando em nada. Eu não quero ser realista, mas se o fosse, já teria percebido há muito tempo que não és nada na minha vida actual. Não há um abraço, não há uma conversa, não há a tua mão na minha. Não há. Não há manhãs nem noites partilhadas na mesma cama, cheiros que se fundem e bocas que se buscam, nem pontas de narizes que se tocam. Não há amor em nós. Não há amor em mim. Não há amor em mim.

domingo, 8 de junho de 2008

rechute

Gostava que tivessem lá estado hoje. Mãe, podias ter-me ajudado a escolher um vestido mais bonito do que aquele que levei e maquilhar-me-ias, tu sabes que eu não sou muita dotada para expôr a minha beleza exterior (como poderei atrever-me a dar a conhecer aos outros a interior, se nem esta que aparenta ser uma beleza fácil, eu gosto de mostrar?). E tu, pai, não aprecias nada festas deste género, mas aposto que farias um esforço para estares lá a sorrir e a ver-me subir aquele palco.
Hoje senti que já não vos tenho. O que estariam vocês a fazer àquela hora? Em que mesa estariam sentados a comer? Sinto que não sei nada de vocês e sei que há muito tempo que não sabem de mim também. Gostava que me conhecessem, que tivéssemos conversas infindáveis sobre livros ou drogas ou amor, tanto faz.
Os olhares daqueles pais deixavam transparecer tanto orgulho que, por momentos, senti inveja daquela gente toda, por não vos ter lá, por não ter ninguém orgulhoso de mim esta noite. Esta noite? Eu não vos dou qualquer motivo de orgulho há muito tempo, mas esforcei-me durante tantos anos por vos impressionar e deixar felizes, e sinto que nunca me souberam dar o devido valor, nunca foram capazes de dizer "filha, temos orgulho em ti, tu fazes-nos felizes". Se não me deram valor quando eu realmente vos dei razões para isso, sei que não é agora que não faço nada para vos ver felizes nem vos tento dar motivos para se orgulharem de mim, que vão achar em mim a filha que sempre sonharam ter.
"Era tão boa aluna...". Oh mãe, sou tão mais inteligente fora da escola agora. Já vivi tanto, já sofri tanto, e acabei de fazer dezoito anos. Gostava que pudesses entender que não escolhi o caminho de fazer tudo como me ensinaram, gostava que pudesses perceber que não gosto de fazer as coisas por fazer, porque me cansei de viver uma rotina que não me preenchia. Usei como recurso coisas que tu sempre achaste impensáveis para mim. Tens razão, se calhar optei pela escapatória mais fácil (e errada), mas não me condenes. O meu mundo é tão triste que eu tinha que inventar outro onde pudesse ter momentos de felicidade (será?) tão intensa que me fizessem esquecer a pessoa vazia que sou neste mundo de gente desinteressante, que já ouviu tanto de mim mas que no fundo, não sabe nada do que aqui vai dentro. Sei que isto não tem desculpa, que existiam outras formas de contornar a situação e que acabei por ir contra os meus próprios princípios, fazendo da minha vida aquilo que eu tinha a certeza de não querer para mim. Mas quando o grito não sai, a ajuda não vem. O grito vai aumentando a cada dia que passa e eu aprendi a contê-lo e a não precisar de exteriorizá-lo. Acabo por deitá-lo cá para fora, mas não se dirige a ninguém. É algo que fica no ar, tal e qual uma nuvem de fumo espessa que teima em invadir-me o espaço, mas que não invande o de mais ninguém.

Isto tudo para dizer que aos poucos deixo de sentir a vossa ausência, mas hoje tive uma recaída.