O paradoxo: a minha (muito provável consequência da imaginação) superioridade resulta num complexo de inferioridade perante os outros.
E parece que a minha vida toda é centrada nesta ideia. Ora me sinto plena e confiante, cheia de força e esperança por achar que sou eu que estou certa e que o mundo não tem sentido; Ora se sucede precisamente o contrário por achar que o mundo é dono da razão e que eu não sou mais que uma mente perturbada e demente que por aqui se passeia e tira as conclusões mais transviadas que poderiam ser. Acho que quanto mais vou evoluindo mais vezes sou eu que estou certa, ou pelo menos, assim o vejo. Então porque é que não me consigo integrar nesse mundo se já o percebi? Porque é que não consigo projectar nele de outra forma que não teórica a minha vontade de ser melhor e de transformá-lo também a ele em algo melhor? Será que a minha verdade não pode coexistir com a verdade do mundo? Mas se eu sou parte dele, meu deus! Como é que eu poderei não conseguir fazer parte daquilo que fui destinada a fazer parte? Parece que é uma rejeição mútua: há dias em que não quero nada com ele e há outros em que tento em vão ser aceite. Talvez o problema seja esse mesmo. Tentar integrar-me numa coisa da qual faço parte parece-me ser uma ideia absolutamente descabida de sentido. É estar a forçar algo que devia ser natural. As circunstâncias assim o exigem.
Mas as circunstâncias são transitórias, o eterno será bem outra coisa.