terça-feira, 24 de julho de 2007

Diogo


E pensar que a nossa história começou no hi5 e continuou no Green Hill, numa noite com álcool e droga à mistura, em que acabámos por não nos preocupar com mais nada senão com a procura do prazer físico? Esboça-se um sorriso na minha face, por ter pensado que serias apenas só mais um dos inúmeros rapazes que eu já usei para esquecer a dor que habita a minha alma através da satisfação do meu corpo que não sente. Mas não, tu tornaste-te em algo tão mais forte e grande que isso, que me sinto estúpida por alguma vez ter pensado que serias apenas mais um como os outros.
Se há amigos de verdade, tu és um deles e eu, apesar de nunca to demonstrar, estou muito grata por me proporcionares verdadeiros momentos de amizade e felicidade. Este verão, está a ser tão divertido contigo. Se não fosses tu, eu passava muito mais tempo só e não deveria passar tempo só, porque isso me faz pensar e quando penso, penso em coisas que me fazem mal. Quando estou contigo nunca penso, desfruto do momento porque é isso mesmo que me dá vontade, de me rir e divertir contigo.
Eu gosto mesmo de ti, Diogo.
E desculpa se não consigo demonstrar o que sinto, mas acho que demonstrei demais os meus sentimentos no passado e prefiro conter-me e controlá-los agora, para evitar grandes emoções, sejam elas positivas ou negativas. Mas não te esqueças, estás a proporcionar-me um dos melhores verões que já vivi.

E como eu gostava que pudesse ser verão o ano inteiro...

quinta-feira, 5 de julho de 2007

desejos paradoxais

Amanhã gostava de ir à praia e de fazer ski. Gostava de ficar em casa e de passar o dia na rua, de ler um livro e de escrever outro, de comer carne e saborear uma bela posta de peixe. Gostava de fazer sexo e amor em simultâneo, de ser adulta mas criança, de me sentir homem mas possuir um corpo de mulher, de não pensar e elaborar uma teoria. Gostava de amar mas saber o que é odiar, de ser amiga e apunhalar pelas costas, de experimentar heroína sem consumir droga, de morrer mas continuar viva.
Gostava de tudo e de nada, gostava de saber o que é o tudo e o nada, de experienciar tudo o que quero. Mas não sei o que quero, por isso mais vale não experienciar nada do que o que não quero.

E a vida passa-me ao lado.

terça-feira, 8 de maio de 2007

ela sente, escreve e lê

Agarra com a mão trémula a caneta e usa-a transformando em palavras os sentimentos que lhe atordoam a alma. Ela não sabe quem é, nem sabe o que sente. Mas sabe que o é e sabe que o sente. E sabe também que o que é, gostaria de não ser e, que desejaria escolher o que sente.
Ela escreve, sossegadamente.
Porque quando escreve, o que sente movimenta-se da alma para o papel e aquilo que nele escreve, lê-o posteriormente. E quando o lê, não sente, sabe apenas que o sentiu.
Chora então, por ter sentido.
As lágrimas pousam no papel, branco e fino. Absorvidas, dão textura às palavras que antes haviam sido sentidas. Sente saudade do que sentiu, mesmo que o sentimento lhe tenha apedrejado a mente, mesmo que a dor tenha sido tão intensa que, por momentos a sua alma se tenha quebrado, mesmo que um dia a raiva a tenha invadido de forma a que o simples gesto de falar se assemelhasse a um grito ensurdecedor proveniente das entranhas do seu corpo.
Esqueceu-se de que tem corpo, de tão grande que lhe é a alma.
Ela sempre disse que não deixaria nunca que o amor a destruísse , porque o amor constrói-se tão cautelosa e lentamente. A desaparecer, seria progressivamente e não lhe acabaria com a vida num segundo.
Acabou-se-lhe a vida num segundo.
Porque para ela, o amor foi tudo. O amor é tudo. Ela não sabe viver sem amar, nem sabe amar sem escrever. Quando ama, escreve. E depois lê. E chora por ter amado, por ter amado tanto que se esqueceu que deveria ter deixado que a amassem também, que deveria ter dado liberdade a quem amou para escolher se queria ser amado tão fortemente.
Não deu liberdade a quem amou.
E agora que faz ela? Escreve o que sentiu e chora quando o lê. Porque não pode mais senti-lo, se o sentir de nada lhe servirá porque ninguém mais poderá senti-lo. E para ela o mais triste que pode existir, é ter tanto amor para dar e ninguém que dele se queira servir para ser feliz.

É triste também, que ela não seja feliz.
Rasga o papel, parte a caneta. Mas não pode rasgar sentimentos, nem partir o coração. Do que ela gostava, era de que a alma fosse física como o corpo, para se poder esquecer de que a tem.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

in a manner of speaking

In a manner of speaking I just want to say, that I could never forget the way, you told me everything by saying nothing.
In a manner of speaking I don't understand, I love when silence becomes repriment, the way that I feel about you is beyond words.

Oh, give me the words. Give me the words, that tell me nothing.
Oh, give me the words. Give me the words, that tell me everything.

(...)


Nouvelle Vague

sábado, 31 de março de 2007

águas de março

Observo o mar.
Quebram com violência, as ondas. E as gaivotas, assustadas, esvoaçam para um outro pedaço de areia qualquer, buscando protecção. Sentem-se agora protegidas, mas eu não.
Observo o céu.
Os relâmpagos invadem-no e irradiam o meu campo de visão, deixando soar segundos depois o tremendo estrondo da trovoada. Um cão ladra, procurando deixar transparecer o seu medo. É escutado pelo dono, que o reconforta. Já não tem medo, mas eu sim.
Observo a praia.
Não vislumbro agora vivalma. Onde foram todos? Não sei. Toco com a mão na areia e acaricio os inúmeros grãos de areia da superfície. Macios, suaves, todos tão juntos. Se fossem gente, certamente seriam felizes. Eles nunca estão sós, mas eu sim.
Agora chove.
Não observo a chuva, sinto-a. As gotas caem-me no corpo e percorrem-no apressadamente como se quisessem, também elas, abandonar-me rapidamente. Talvez queiram, porque são como tu. Elas não sentem, mas eu sim.


A promessa de vida no meu coração? Foi-se.
Caminho, com a expectativa, de que em Abril volte. (A chuva de) Março fica para trás.

domingo, 18 de março de 2007

Droga


Olhei através da janela e pareceu-me ver a tua sombra desenhada na parede branca do prédio da frente. Os braços caídos ao longo da silhueta do teu corpo que tantas vezes fora meu, as pernas altas e fortes aguentando o tronco a que tantas vezes me abracei quando o medo de te perder me invadiu, agora era até a forma como o teu reflexo se movia, suavemente, através dos vidros das lojas do rés do chão. Eras tu, não tive dúvidas.


Mas, segundos depois de ter desviado o meu olhar para dentro, olhei outra vez pela janela. E já lá não estavas.
Subitamente, questionei-me se te terias ido embora tão rapidamente que nem me apercebi. Ou se os meus vícios começavam a resultar em deambulações por outros mundos que não o meu.



Olhei uma terceira vez e reparei. O prédio da frente não tinha paredes brancas, nem lojas no rés do chão.






segunda-feira, 5 de março de 2007

noa perle & marlboro

Por vezes, questiono se sentirás saudades do meu cheiro. Não me lembro de como era o meu cheiro. Lembro-me do perfume que usava e de que nessa altura não fumava, embora tenha partilhado contigo o meu primeiro cigarro, numa daquelas tardes em que a nossa relação era ainda somente de amizade e muito riso à mistura. Era tudo tão simples, sem angústias e noites mal dormidas. A amizade é, efectivamente, algo de muito simples. Porque haveríamos nós, então, de complicar e transformar esse sentimento noutro tão distinto e complexo? A metamorfose ocorreu connosco sem que nos apercebessemos. Ou será que nos apercebemos? Eu senti-o, mas não soube o que era e deixei que se instalasse, porque, de certa forma, era um sentimento aprazível. Como se passou contigo, não sei. Falámos sobre isso, ao longo dos muitos meses em que partilhámos as nossas vidas, mas neste momento, não sei quantas das palavras proferidas por ti, foram verdade.
Se te chegasses a mim agora, verias como o meu cheiro mudou. O detergente certamente não será o mesmo, o perfume também não. E com estes dois, funde-se o cheiro a tabaco que me acompanha constantemente no dia-a-dia. Mas só tu me vias, tocavas e observavas nua. E despida de tudo o resto, o meu cheiro é nada mais que isso, o meu cheiro.

O mesmo cheiro que se misturava com o do teu corpo, quando fazíamos amor. Nada que se pareça com o odor a tabaco nem a Noa Perle, que todos sentem quando me cumprimentam, por cima de toda esta vestimenta que trago e que esconde um corpo, que porta um coração que tanto por ti sofre.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Que se sente

Existem palavras
Que não se limitam a ser
Escritas
(Nem ditas).
Invadidas pela
Necessidade de serem
Sentidas,
Provocam em nós
O desassossego
Da mente
(E da alma).
Perfuram-nos
O coração,
Que se habitua
A mantê-las
Dentro de si.
Não demonstro,
Que sofro
(E se sofro!)
De um mal
Que pode ser
Uma palavra.

Que se escreve,
Que se diz
(E se sente),

Saudade.


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

riders on the storm

Sul de França,
Verão 1993

Era noite, a escuridão adensava-se à volta da estrada, iluminada pelos faróis do carro, que era um Toyota, não me lembro de que cor. Sei que agora, ela tem um Audi preto.
E que na altura, eu era metade do seu tudo e que agora, a ser algo, serei apenas a recordação do que fui.
O velocímetro apontava para os 140km/h, ela gostava de conduzir depressa e a destreza com que o fazia era notável. Pelo menos, para mim.
Sentada descontraidamente, como se não estivesse a conduzir, fumava um cigarro, cujas cinzas atirava pela janela semi-aberta. Chovia. Era uma daquelas trovoadas de verão, de que eu tanto medo tinha quando estava em casa no meu quarto e o meu irmão contava histórias para me assustar. Mas o meu irmão não estava ali. Era só ela, eu e a outra metade do seu tudo, que ia sentada no lugar do morto, como o chamam.
Perguntei se faltava muito para chegarmos ao hotel. Ela sossegou-me com um não misturado com um sorriso. Ela levava-me sempre de férias, quer fosse para a montanha ou para a praia. Naquela altura, eu gostava mais dela do que de qualquer outra pessoa no mundo e sentia ciúmes da que ia no lugar do morto, porque dormiam juntas. Algo me perturbava, porque eu não era invadida pelos mesmos sentimentos, quando o meu irmão dormia com a minha mãe. Era só com ela.
Estes pensamentos atribulavam-me a mente enquanto o Toyota avançava por entre campos verdes, por debaixo do dilúvio que caía. Comecei a avistar luzes, casas e mar lá ao fundo.
"On arrive", murmurou ela docemente para mim, em tom baixo, para não acordar a que ia no lugar do morto. Elas amavam-se e eu era como que o prolongamento do seu amor, a criança que desejariam ter mas não poderiam nunca conceber.


Lausanne, 2007

Já não se amam. A que costumava ir no lugar do morto, morreu. Eu desapareci das suas vidas antes disso. E ela é feliz, sem mim, sem a que ia no lugar do morto.
Não deve, certamente, saber que posso não ter permanecido para sempre como o prolongamento do amor que sentia pela outra, mas que sou um prolongamento dela.

Também fumo, conduzo depressa e trazia alguém no lugar do morto, que já morreu.


domingo, 28 de janeiro de 2007

(Já) não sei sentir-me assim.

Neste momento sinto-me capaz de subir a árvore mais alta do parque e gritar que és tudo. Mais do que isso, sinto-me confiante para saltar do seu topo e desfrutar da sensação de liberdade da contínua queda do meu corpo. Porque tu estás lá em baixo para me segurares quando eu chegar ao chão. Para me dares a mão e prosseguirmos a noite lado a lado, sentindo o vento arrefecer as nossas faces enquanto os nossos corações quase se derretem de tanto calor exalarem. E deixo-me levar suavemente por ti, caminho ao ritmo do teu andamento enquanto apertas a minha mão contra a tua. Os meus dedos cruzam-se com os teus, e é como se neste momento, o mundo todo se concentrasse aqui, neste ínfimo espaço, que se encontra entre a minha mão e a tua.

Neste momento.


Apenas neste momento me apetece rir. Mas apetece-me rir como se fosse o último dia em que um ser humano tivesse tal oportunidade. Rio-me perante o teu sorriso. Rio-me por sentir os teus dedos se juntarem mais aos meus, rio-me por o espaço onde todo o mundo se concentra, aquele entre a minha mão e a tua, se estreitar cada vez mais. Não, agora o mundo não nos escapará mais. E rio-me porque me parece ouvir a tua voz dizer algo junto ao meu ouvido, que não compreendo imediatamente. Sabes porquê? Porque neste momento acabaste de proferir o verbo amar. A forma como tu usas o verbo amar é diferente. Porque me faz sentir a pessoa mais viva do mundo.
E é por isso que neste momento me sinto viva como nunca pensei vir a sentir-me. Pela primeira vez percebo, entendo, compreendo o conceito da palavra vida. Todos os significados que podem nascer a partir do tal conceito que agora domino completamente. Neste momento sei perfeitamente que serei eterna. Nós seremos eternas. Não mais acreditarei em efemeridades da vida. Nem tu. Porque sabes que me pertences e eu te pertenço. E será sempre assim. Sempre. Mesmo que um dia tudo acabe, o nosso mundo, que se encontra algures entre a minha mão e a tua, na infimidade de um espaço criado apenas e somente por nós, irá perdurar.


Neste momento realizas o meu âmago, a parte mais profunda do meu ser. E só me apetece mergulhar contigo num mar de ideias, sonhos e sentimentos. Enumerar contigo toda uma complexidade de objectivos que em conjunto iremos atingir. És objecto da minha afeição, és motivo da minha felicidade, da minha plenitude. Neste momento, és tudo.




quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Simplicidade vs. Complexidade

Poderia limitar-me a dizer que custa, que dói, que corrói, que magoa, que destrói. De cada vez que te olho nos olhos e tu desvias os teus, como se tivesses presente a ideia de que te quero afectar, afligir, incomodar.
Mas não. Não só custa, dói, corrói, magoa e destrói, como também não te quero afectar, afligir nem incomodar.


Mata.


E tudo o que eu quero quando te olho nos olhos, é tentar perceber o porquê dessa tua indiferença, dessa tua atitude que não é a mesma que um dia antes foi, dessa tua ausência da lembrança de momentos intensos e inesquecíveis vividos anteriormente (numa outra vida, talvez).
E pensar que tudo aconteceu antes do sonho. Primeiro sonha-se, depois deseja-se que o sonho se torne realidade. Comigo não. Tive, senti, vivi a realidade. Agora sonho.
Tudo, porque o caminho mais fácil foi o que decidiste seguir.


Sabes, é a simplicidade dos sentidos dos nossos corpos. Porém, é também a complexidade da vaidade das nossas mentes.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

le vent nous portera

Poderão existir obstáculos aparentemente incontornáveis no meu percurso, mas eu tratarei de encontrar forma de ladeá-los. Poderá cair abundantemente a chuva, poderá o sol queimar a minha face e perturbar-me os olhos, poderá a estrada rapidamente transformar-se em terreno movediço. Eu seguirei o meu caminho até ti.
Já não sei onde moras, nem quem és. Nem tampouco sei se algum dia voltarás a querer encontrar-me e saber quem eu sou. Se me concedesses cinco minutos do teu tempo, não me atreveria a dizer que te amo. Abraçar-me-ia a ti, porque ao serem recordados, os gestos magoam tão menos que as palavras. Magoa tanto dizer que te amo sem obter resposta, mas não magoaria nada um abraço só nosso nestes tempos impetuosos de vacuidade que, pouco a pouco, me destroem.
Acredito piamente que um dia a força da maré nos juntará, que o vento nos colocará de novo lado a lado e deixará para trás tudo o que de mau fomos, tudo o que de perfeito não conseguimos alcançar, todo o prejudício que nos proporcionámos mutuamente, primeiro eu e depois tu, tão prolongadamente. Tudo isso será reduzido a cinzas e a verdadeira chama do amor ficará, de novo, bem acesa entre nós.


Des poussires de toi
Le vent les portera.
Tout disparatra mais,
Le vent nous portera.

Noir Desir & Manu Chao

domingo, 10 de setembro de 2006

Acabou de ser formado, o meu consciente utópico.
A expectativa infundada do teu regresso, é agora propósito de todos os meus sonhos.


(E da minha existência.)