sexta-feira, 19 de setembro de 2008

pensons à l'avenir, bébé!

Caminhar por ruas desconhecidas e sentir-me livre. Tão livre. Para ser quem quiser, para agir como me apetecer, para deixar de me limitar a pensar de acordo com o que sinto, sem demonstrá-lo a quem me rodeia. Porque quem me rodeia não faz ideia, mas tem direito de não fazer ideia. Finalmente, estranhos. Novas caras, a cada minuto que passa. Não corre brisa, abafa-nos o ar parado e quente sem deixar arrefecer o que portamos cá dentro. Sento-me num banco de jardim e observo a água do lago, que não sei bem descortinar de que cor é. Talvez bem azul, talvez um pouco esverdeada, como tu tanto gostavas. Apetece-me mergulhar. Não nesta água, mas na tua ausência que não se sente como outrora. Faz sentido esta vida sem ti. Fazem sentido as horas passadas no meu sofá laranja onde nunca estiveste. Nem me custa fazer o mesmo caminho todos os dias, porque nunca o fizeste comigo. É até agradável caminhar por aqui e não há sítio que me traga más memórias nesta cidade. Por vezes perco-me. Não nas ruas desconhecidas, mas nos meus pensamentos, porque não há necessidade de parar, eles não destroem como fizeram durante tanto tempo. São, aliás, a base para construir tudo o que está para vir. E o que está para vir não pode certamente ser pior do que tudo aquilo que passou.
E é bom conhecer gente de todo o mundo, sentir-me uma cidadã do mundo. Quase que sinto vontade de comprar um dossier e arranjar um projecto novo. Quase que sinto vontade de dizer não ao teu amor e ao de quem quer que seja que apareça para me amar a mim mesma. Quase que sinto vontade de deixar de te ter cá dentro para poder ocupar este espaço com outros sentimentos que não este tão carregado de mágoa e de tristeza. Eles não sabem como é bom mudar de vida. Eles desconhecem por completo o amor e as loucuras que ele nos faz cometer. Eles acham que é fácil, que não há razões que justifiquem os nossos actos, mas nós conhecemo-las todas e queríamos tanto que nunca tivessem existido.
Não vou ficar por aqui muito tempo. Tenho cinco continentes por explorar, biliões de pessoas para conhecer, milhares de dias novos com ou sem sol à minha espera. E todas as noites, quando me deitar, vai ser em ti que vou pensar. Mas sei que vou sorrir porque não és tu quem me vai fazer falta. Não será mais o passado que me fará falta. Será o dia seguinte. Porque vou querer mais e mais, mesmo sem saber até onde poderá ir o mais. Não vou fazer grandes planos, não me vou agarrar a nada, nem a pessoas nem a lugares, porque ficar de novo presa, só se for a um caixão. Nem isso, as minhas cinzas hão de ser espalhadas em diversos lugares para que eu não sinta o sufoco de um só local a entrar-me pelo corpo. Porque a alma, estará bem longe. Fora daqui, fora de ti, fora do que fui. Mas repleta de vivências que ainda agora começaram a florescer-me na pele.
E se eles soubessem como é bom poder, finalmente, aprender por mim própria, sem dar por mim fechada num cubículo com mais vinte pessoas que pensam que o que lhes é dito é verdadeiro. Sem ter que ouvir alguém disparar informação que alguém inventou para que outros a absorvessem. O que os outros viveram e descobriram é parte deles, nunca percebi porque é que faziam tanta questão que fizesse parte de mim também. Agora posso escolher o que quero que faça parte de mim. E tu, não constas na lista de opções. Tu, serás apenas um telefonema no primeiro dia de Outubro, umas palavras num papel quando o coração assim o ditar. Mas jamais serás o futuro. E tudo o que importa agora, é isso mesmo. O futuro sem ti.