domingo, 20 de janeiro de 2008

foz do arelho

Passados precisamente três anos, voltei a observar o pôr-do-sol sentada naquela rocha, com os pés caídos no vazio.
Aquela será para sempre a praia da minha vida, mesmo que não seja a mais bonita que conheço, porque a beleza não está no que é visível. A beleza está no que se vive, no que se sente, no que se experiencia.
Aquela rocha elevada, a melodia do bater das ondas na areia, a temperatura amena e desadequada para esta altura do ano e, finalmente, o pôr-do-sol por que tantas horas esperei ali sentada acompanhada por um livro e uns quantos cigarros, fizeram-me reviver tudo.
Chorei em silêncio, obrigando o meu olhar saltitar dos pescadores que se encontravam no outro extremo da praia, até à linha do horizonte entre o céu e o mar, na tentativa de me abstrair do terramoto interior que me assolou despertando todos os meus sentimentos por ti que guardo sempre comigo, na ânsia de que um dia os queiras de volta.
Apeteceu-me morrer ali naquela praia, onde me prometeste que o nosso amor seria eterno. Onde me beijaste e amaste e sorriste. Onde me fizeste sentir plena, feliz, realizada. Chorei mais um pouco para me libertar do peso que ocupas cá dentro. Quis sentir de novo tudo o que me proporcionaste naquele sábado de Janeiro de 2005, quando me sentei contigo naquela rocha, com o mar e o céu e o sol como cenário de fundo. O mar, o céu e o sol estavam lá hoje. Mas tu não.
Quando o sol começou a descer e a metamorfose do amarelo para laranja se deu, não resisti. Gritei. Gritei muito. Já não estava sentada na rocha, subi apressadamente o resto da arriba e deixei-me ficar de pé no seu topo. O meu grito ecoou por toda a praia e desapareceu segundos depois, sendo substituído pelo som do mar inquieto e violento. Quis atirar-me do cimo da arriba e entregar-me às revoltadas águas do mar, quis ceder e cair no abismo em que me encontrava. Em que me encontro.
Mas não o fiz.
Gostava de ser uma daquelas pessoas que têm a coragem necessária para pôr fim à vida, mas não o serei nunca. Devem ser esta expectativa infundada do teu regresso, o desejo de voltar a ser tua e de te dar tudo de mim, as recordações da perfeição que contigo alcancei que alimentam a minha esperança de que um dia esta demência em que vivo acabará e me voltarás a amar, a hipótese de que o meu amor por ti morreria com a minha morte física, que me fazem não querer desistir.
À medida que o sol se pôs, fui descendo a arriba. Toquei com os pés na areia, observei o céu, pintado de uma mistura de laranja e cor de rosa, as nuvens que passaram de uma tonalidade branca para essa mescla indiscritível de cores. A minha mente foi, de novo, invadida por inúmeros flashbacks do nós que tu resolveste matar e enterrar e, que me matou a mim também.
O sol pôs-se, deu lugar à lua. É noite. Tenho medo da escuridão. Tenho medo da quietude que me provoca tamanha agitação no interior.

No caminho de regresso a casa, não tocou na rádio, a mesma música da outra vez. Nem senti a tua mão acariciar a minha. Sinto tanto a tua falta, a falta do teu toque.

Voltei a chorar quando cheguei à minha casa vazia e fria, como sempre. A vida deixou de fazer sentido quando levaste contigo todos os meus sonhos. E já percebi que não me irás nunca devolvê-los.
A morte não poderá, certamente, ser pior do que uma vida sem sonhos. Mas se eu me atirasse para um qualquer abismo, morreria comigo o amor que sinto por ti. Morreria o que de mais belo e magistral consegui criar e sentir nesta vida.

Perdoa-me, mas ao contrário de ti, não seria nunca capaz de matar um sentimento como o amor. Como este nosso amor.