Atenas, 24.09.2014
Louco caminha o
mundo, como sempre o fez.
Dou por mim a
imaginar-me num momento crucial e transitório da história.
Como se não o
fossem todos.
Sempre a poderosa
ignorância de acharmos que somos superiores
E de que merecemos
da vida um trato único e especial.
Os mistérios
revelam-se de forma simples mas exigem de nós atenção.
Quanto mais caminho
nessa loucura do mundo, mais rápidos se tornam os meus passos.
Por onde caminho,
não sei.
Para onde caminho,
pouco importa.
Mas há um lugar em
mim que não tem destino nem caminho, e que sabe apenas existir.
Longe de ser parte
dessa personagem ou ego ou que outra coisa ainda queiram chamar-lhe,
Cuja criação nos é
imposta, de uma maneira ou de outra,
Esse lugar sabe
falar-me sem que eu tenha que escutar.
Mas se eu me
deixasse ficar nesse lugar, indefinidamente,
Que aconteceria ao
mundo?
Deixaria de existir,
tal como eu o vejo.
Deixaria de ter que
fazer sentido,
O que por agora
ainda é uma necessidade.
Que acontece quando
essa necessidade se desvanece?
Será esse o momento
em que a loucura do mundo se apodera de nós?
Ou pelo contrário,
a ocasião oportuna de integrar genuinamente a realidade
De forma a que a
validação de nós mesmos enquanto parte dessa realidade
Se transforme numa
preocupação irrelevante?
Que alívio seria
esse de sentir constantemente que não preciso de ser nada,
E que todas as
ideologias, incluíndo a do amor ou a da verdade ou a da liberdade,
Deixassem de ser
critérios segundo os quais os meus passos se movessem.
Por outro lado,
parece-me absurda a existência desse outro lugar
Inventado por cada
um de nós e por isso não existente fora da esfera pessoal
Sem que um motivo
lhe seja atribuído, sem que uma verdade lhe seja inerente.
Por que razão
haveríamos nós de ser feitos para criar, se criação não fosse
precisa?
Por que razão nos
seriam dados tantos caminhos à escolha, se caminhar fosse em vão?