sábado, 2 de fevereiro de 2008

voyage, voyage

Exausta devido às muitas horas que tínhamos passado dentro do avião no dia anterior, mergulhei contigo nas águas límpidas daquele mar sereno e deixámo-nos embalar pelas ondas suaves. Por momentos, uma calma suprema invadiu-nos e desejei que pudéssemos banhar-nos ali para sempre. Que pudéssemos esquecer as nossas vidas cansativas e superflúas comandadas pela rotina diária e nos deixássemos levar pela simplicidade das gentes daquele país que me atrevi a apelidar de paraíso escondido.
Eram tão puros e autênticos aqueles sorrisos que nos ofereciam sem que nada déssemos em troca, como o eram o verde da vegetação e o aroma indiscritível que nos circundavam por todos os lados. E ao caminhar na areia macia de mão dada contigo, entrelaçando os meus dedos nos teus, tive a sensação de que experienciava uma vivência que jamais viria a repetir-se, tive a certeza de que seria impossível que voltássemos a sentir um aconchego semelhante ao que o calor mútuo dos nossos corações ali nos oferecia.
A pobreza extrema daquele povo quase que se tornava insignificante de tão preciosas que eram aquelas crianças e, mesmo que a sua cultura e a sua sabedoria fossem praticamente inexistentes, a bondade que deixavam transparecer superava em tudo um diploma de uma qualquer universidade do mundo em que nos inserimos. Prometeste-me num dos nossos muitos passeios pelas aldeias daquela região, em que parávamos de porta em porta para distribuir alimentos a meninos cor de chocolate, que um dia regressaríamos para trazermos uma daquelas preciosidades connosco. Quero acreditar que pelo menos essa promessa cumprirás.
Fiquei fascinada e tu também, quando me deparei com aquelas palhotas que serviam de casas e senti-me ridícula por termos um plasma na nossa sala de estar, que comprei mesmo sabendo que nem tu nem eu apreciamos ver televisão. Foi um embaraço para o nosso egoísmo, que serviu para nos abrir a mente e transmitir-nos o altruísmo necessário para que um dia possamos afirmar que fomos muito mais do que um amor incompreendido, que soubemos fazer bem mais do que viagens para suavizar os sentimentos de revolta que a nossa sociedade nos provoca, que aproveitámos essas viagens como prolongamento do nosso amor e, que lutámos por partilhar com essa gente tão genuína espalhada por esses confins de mundo, o que de melhor somos em conjunto.
Longe de todo o nosso quotidiano habitual, fui contigo nada mais do que aquilo que todos os dias tento, em vão, ser na nossa cidade: metade de ti, a eterna e inalterável beleza do teu ser.
E foi assim, que durante seis maravilhosos dias, observámos o inigualável pôr-do-sol em África. Afinal sempre era verdade tudo o que tínhamos lido e ouvido sobre ele. E não existirão nunca, palavras dignas de descreverem os sentimentos proporcionados por aqueles fins de tarde, coloridos de uma tonalidade laranja e de outras cores sem nome.
Durante aqueles dias, foi-me possível esquecer a vacuidade que, constantemente me assola a alma. Rendi-me à plenitude que, momentaneamente o meu âmago abraçou.

Esta seria a viagem da minha vida, não fosse ela, apenas fruto da minha imaginação. Mas todos temos aquela a que chamamos a nossa viagem de sonho. E dizem por aí, que o sonho comanda a vida.