domingo, 8 de fevereiro de 2015

going home


Atenas, 24.09.2014

Louco caminha o mundo, como sempre o fez.
Dou por mim a imaginar-me num momento crucial e transitório da história.
Como se não o fossem todos.
Sempre a poderosa ignorância de acharmos que somos superiores
E de que merecemos da vida um trato único e especial.

Os mistérios revelam-se de forma simples mas exigem de nós atenção.
Quanto mais caminho nessa loucura do mundo, mais rápidos se tornam os meus passos.
Por onde caminho, não sei.
Para onde caminho, pouco importa.
Mas há um lugar em mim que não tem destino nem caminho, e que sabe apenas existir.
Longe de ser parte dessa personagem ou ego ou que outra coisa ainda queiram chamar-lhe,
Cuja criação nos é imposta, de uma maneira ou de outra,
Esse lugar sabe falar-me sem que eu tenha que escutar.

Mas se eu me deixasse ficar nesse lugar, indefinidamente,
Que aconteceria ao mundo?
Deixaria de existir, tal como eu o vejo.
Deixaria de ter que fazer sentido,
O que por agora ainda é uma necessidade.

Que acontece quando essa necessidade se desvanece?
Será esse o momento em que a loucura do mundo se apodera de nós?
Ou pelo contrário, a ocasião oportuna de integrar genuinamente a realidade
De forma a que a validação de nós mesmos enquanto parte dessa realidade
Se transforme numa preocupação irrelevante?

Que alívio seria esse de sentir constantemente que não preciso de ser nada,
E que todas as ideologias, incluíndo a do amor ou a da verdade ou a da liberdade,
Deixassem de ser critérios segundo os quais os meus passos se movessem.

Por outro lado, parece-me absurda a existência desse outro lugar
Inventado por cada um de nós e por isso não existente fora da esfera pessoal
Sem que um motivo lhe seja atribuído, sem que uma verdade lhe seja inerente.
Por que razão haveríamos nós de ser feitos para criar, se criação não fosse precisa?
Por que razão nos seriam dados tantos caminhos à escolha, se caminhar fosse em vão?