terça-feira, 26 de abril de 2011

routine


Às vezes não choro e não sei porquê
às vezes choro e sei porquê
e às vezes choro e não sei porquê.
Às vezes sorrio, não sei porquê
se não sei porquê, questiono-me
se me questiono, não faço nada
se não faço nada, fumo
se fumo, não faço nada
se não fumo, não durmo
se não durmo, questiono-me
se me questiono, lá se vai a sanidade
lá se vai a sanidade porque a deixo ir.
Se a deixo ir, culpabilizo-me
se me culpabilizo, não faço nada.
Não faço nada e fumo.
Fumo e não faço nada.
Às vezes faço, não sei porquê
Não sei porquê, mas sabe bem
Sabe bem ou então não sabe a nada
Mas se não sabe a nada, não sabe mal
Se não sabe mal, há que fazer mais vezes.
Mas há que fazer mais vezes o quê?
Se o que é, não sabe a nada.
Mas o que é, às vezes sabe bem.

(devia parar aqui)

Não há botão off, então continuo.
Se continuo, é para ir até ao fim.
Se há um fim, que seja já ali
Se for já ali, lá vou eu até ali.
Mas se não for, cá fico eu aqui
Porque ficar aqui não sabe a nada
E se não sabe a nada, não sabe mal.
Se sabe mal, deixo de fazer.
Se deixo de fazer, deixo de ser(?)
Se deixo de ser...

(é isto, o botão off?)

Se deixo de ser, existo apenas.
Existo apenas, mas continuo aqui
Se continuo aqui, é para ir até ao fim.
Há um fim e pode ser que não seja já ali.
Se não for já ali, por onde é que hei de ir?
Não sei, mas hei de ir.

(quem me dera parar aqui também)

Hei de ir, mas hei de ir só
Porque caminhar só, é o destino do Homem.
Se há destino, não há acaso.
Se há acaso, não há destino.
Se não há nenhum, o que há então?
Se não há nada, existir deve chegar.
Mas se existir não chega, é porque há.
Se há e não sei o que é, não é justo
Se não é justo, revolto-me
Se me revolto, faço alguma coisa.
Se faço alguma coisa, que sirva de algo.
Se serve de algo, sabe bem.
Se não serve de nada, sabe mal.
Então revolto-me e não faço nada.
Não faço nada, porque não sabe mal.
Não faço nada, a revolta desaparece.
A revolta desaparece, deixo de sentir.
Deixo de sentir, não deixo de pensar.
Penso, logo existo (que acertado!)
Logo existo, mas não sou.
Se não sou, não sirvo de nada.
Não sirvo de nada, mas desejo servir.
Se desejo, não estou em paz (diz o Buda)
Se não desejo, não faço nada (digo eu)
Mas desejo e não faço nada
Se não faço nada, não estou em paz.
Não estou em paz.
Não estou em paz!
Quero estar em paz, mas não sei como.
Não sei como, então questiono-me
Se me questiono, lá se vai a sanidade
Mas não a deixo ir, porque sou forte
Sou forte, mas não estou em paz
não estou em paz, porque sou fraca.
Niguém é, tudo está (lá vem o Buda).
Estou fraca, então não faço nada
não faço nada e fumo
fumo e não faço nada.
Se não faço nada, culpabilizo-me
se me culpabilizo e sou forte, não fumo
se não fumo, não durmo
se não durmo, questiono-me
se não me questiono, faço coisas
faço coisas que não sabem a nada.
Não sabem a nada, mas não sabem mal.
Se não sabem mal, há que fazer mais vezes.

Há que fazer mais vezes o que não sabe a nada.
Fazer isso, é conformar-me
se me conformo, não me revolto
se não me revolto, sou quem não percebo
se sou quem não percebo, mais vale não ser.
Mas posso ser e tentar percebê-los.

(boa!)

Se tento percebê-los, tento ser percebida.
se os percebo, estou com eles.
se não os percebo, tenho que estar na mesma.
se sou percebida, quero estar com eles.
se não sou percebida, deixo de querer.
se deixo de querer, não faço nada.
não faço nada e fumo
fumo e não faço nada.

Há vezes em que não fumo e adormeço.
Até adormecer, passam-se dias
dias em que me questiono ou faço algo
se me questiono, os dias prolongam-se
se se prolongam, lá se vai a sanidade
se faço algo, que seja até ao fim
se é para ser até ao fim, não durmo
se não durmo, lá se vai a sanidade
vai-se a sanidade, preciso de dormir.
Preciso de dormir, então fumo.
Enquanto fumo, estou em paz
acabo de fumar, deixo de estar em paz
se não estou em paz, não faço nada
não faço nada, sinto-me inútil
sinto-me inútil, não vejo pessoas
não vejo pessoas, sinto-me só
sinto-me só, penso em ti
Penso em ti, não estás aqui
não estás aqui, mas pensas em mim
pensamos, logo existimos.
Mas nós existimos, sem sermos nada
não somos nada, mas eu amo-te
amo-te e não sei porquê.
Não sei porquê, questiono-me
questiono-me e questiono-te
questiono-te e tu respondes.
Respondes e dizes que me amas.
amas-me, mas não estás aqui
não estás aqui, hás-de estar aí
se estás aí, posso ir ter contigo
se vou ter contigo, tem de ser já.
se não for já, questiono-me
se me questiono, não faço nada
se não faço nada, não vou ter contigo.
Se for já, tudo corre bem.
Se tudo corre bem, sinto-me feliz
sinto-me feliz, onde não posso ficar
não posso ficar, venho-me embora
venho-me embora, volto para aqui
volto para aqui, fico à tua espera
fico à tua espera e não faço nada.
Às vezes faço e sabe bem
ou então não sabe a nada.
Há que fazer mais vezes o que sabe bem
há que fazer mais vezes o que não sabe a nada
há que fazer mais vezes o que sabe mal(!)
há que fazer, há que fazer, há que fazer.
Dizes tu, dizem eles, digo eu.
E eu faço, mas nunca estou em paz
se não estou em paz, culpabilizo-me
não quero culpabilizar-me, deito culpas
deito culpas, deixo de me culpabilizar
deito culpas, revolto-me.
Revolto-me sozinha, não estou em paz
sei que há outros revoltados a sofrerem sós
(Como será a rotina deles?)
sofremos sós, mas deitamos culpa ao mesmo
ora somos nós, ora são eles
sofremos sós, porque não fazemos nada
não fazemos nada, porque não sabemos como
não sabemos como, questionamo-nos
questionamo-nos, mas não nos juntamos
não nos juntamos, não agimos
não agimos, somos como eles
se somos como eles, morreremos como eles
se morrermos como eles, a vida é em vão.
Se a vida é em vão, mais valia não ter nascido.

(ponto de saturação atingido)

Se nasci, foi para viver
se nasci, foi para ser
se nasci, foi para amar
se nasci, foi para me superar
se nasci, foi para me juntar aos outros
se nasci, foi para fazer coisas (que saibam bem)
se nasci, foi para morrer.
E morrer não há-de ser o fim.

E se for, não faz mal
não faz mal, porque vivi.
(pelo menos aos bocados)







(1000000ésimo novo começo)