domingo, 29 de novembro de 2009
E ao voltar a lembrar-te,
Mesmo que em sonhos,
Porque de não fumar,
Voltei a fixar os sonhos
E a sentir-me estranha
De manhã, ao acordar,
Percebi que só te amei
Depois de te ter amado,
Porque sempre soube
Que ser a dois
É tão mais fácil.
Não há droga, nem hábito,
Nem rotina, nem nada,
Que substitua a sensação
De nunca se estar sozinho,
Por se estar em alguém.
Pena é que do amor à loucura
Seja um passo pequenino.
É que há os que amam,
E os que fazem por isso,
Só porque não sabem ser,
Sozinhos.
Hoje percebi também,
Que antes de ti, e mesmo
Enquanto estiveste em mim
E eu em ti, eu tinha amor
Para dar, para partilhar.
E sabia ser, sem ti,
Sem ninguém. Ser só eu.
Depois de ti, transformei-me.
Em ti, em toda a gente.
Com a simples diferença
De não saber inventar o amor.
Então ainda aqui estou,
Sozinha, sem nada ser,
Porque para mim agora,
até ser a dois é difícil.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
I am getting so far out one day I won't come back at all
Se antes era medo,
Agora como tudo o que sobra,
nada mais é que indiferença.
Ainda que na teoria não o seja.
Na teoria, na teoria...
Se fazer fosse como dizer
Não usaria eu essa mesma
máscara, a da apatia.
É que as emoções são e estão.
Ou talvez seja: vêm e vão.
E mesmo assim, todos os dias,
Eu grito e choro e rio e danço.
Sem que ninguém saiba,
Pois que ninguém tem de saber.
Lanço olhares que são esse grito,
o meu passo, o meu passo é
como que um choro lento.
E se risos já não ouso,
O sorriso sempre presente,
É que já não sei quando
Nem porque, é suposto usá-lo.
Onde está a piada afinal?
Então danço e danço e danço
Num rodopio sem fim.
Quando dou por mim,
Nunca sei onde estou.
sábado, 14 de novembro de 2009
Hoje sinto necessidade de falar sobre (as minhas) viagens de comboio.
O percurso é sempre o mesmo, embora se alternem os dias de sol e os de chuva, a cada semana que passa, o visível avançar da estação. O comboio é que não é sempre o mesmo, mais ou menos espaçoso, mais ou menos bonito, mais ou menos confortável. Mais ou menos turbulento, também.
Tento aproveitar a viagem para olhar para mim (o reflexo no vidro obriga-me) e para olhar para as pessoas que se encontram no mesmo comboio que eu. E também é claro, que me perco a olhar lá para fora, não há palavras que traduzam a beleza da paisagem.
Olho então para as pessoas, durante parte da viagem. E, mesmo sem querer, divido-as em grupos. O primeiro grupo, o dos entretidos: os que vão de olhos postos no portátil seja a trabalhar ou a ver filmes ou até mesmo a jogar solitário, os que com os phones nos ouvidos se encontram de olhos fechados praticamente toda a viagem, mas sem dormir, pois abanam discretamente mas de forma rítmica a cabeça, os que adoram viajar absorvidos na leitura (reparei que estes costumam olhar de lado aqueles dos phones nos ouvidos, talvez a música alta os incomode), ainda os outros envolvidos numa sucessão de telefonemas que nunca mais acaba, e tantas outras coisas como por exemplo, hoje, uma senhora que vinha a tricotar. Acho que não devem gostar muito de andar de comboio, essas pessoas. Aposto que não gostam de viajar, gostam apenas de partir e de chegar ao sítio esperado, de passarem então a viagem absorvidos noutra coisa que não a viagem.
Depois há as outras pessoas, de olhar fixo através da janela. Não se movimentam para fazer o que quer que seja, nem olham para outro sítio, apreciam a paisagem unicamente olhando para "a" janela. Para a janela que se encontra a seu lado. E passam a viagem toda assim.
Pois bem, às vezes gosto de olhar para essas pessoas que passam duas horas inteiras a olhar através dessa janela que se encontra lá mesmo ao lado, é que elas nem reparam que eu olho para elas, quer estejam a olhar para si próprias através do reflexo no vidro ou lá para fora através do mesmo. Confesso que também já fiz exactamente o que elas fazem, na minha primeira viagem, destas muitas que tenho feito. Mas na minha segunda viagem, descobri a janela do outro lado. Foi por acaso. Aquela janela que reflecte na nossa mas que se formos pela lógica de alguns, é a janela que pertence à pessoa que decidiu sentar-se ao lado dela. Seguindo essa mesma lógica, trata-se de uma janela proibida para nós. Quando tento aproximar-me dessa lógica, até que entendo as pessoas que agem segundo a mesma. Percebo então que o que mais me intriga, não são as pessoas que de tão absorvidas na paisagem que a sua janela lhes permite visualizar, nem reparem que há a janela do lado, onde a paisagem pode ser, por vezes, completamente diferente. Também não são aquelas, que passam a viagem entretidas para não terem que pensar ou observar ou ser simplesmente durante duas horas um pedaço de nada enfiado numa caixa com rodas que as transporta (nunca sei para onde, às vezes gostava de perguntar-lhes para onde vão) enquanto lá fora a natureza grita desesperadamente por olhares e sentidos e emoções a cada instante, coisas que elas não sabem bem o que querem dizer ou então se sabem, preferem não incluir na viagem.
As pessoas que eu realmente tenho dificuldade em perceber, nesta minha viagem de comboio, são aquelas que por um momento deixam de observar a paisagem através das suas janelas e pousam os olhos na janela do lado, discretamente. Aquelas que vêem que nessa janela do lado a paisagem é diferente. E que mesmo assim, voltam a encostar a cabeça à sua janela e a olhar através dela, para a paisagem que de há horas vem já a entreter-lhes a vista, embora também a paisagem esteja sempre a mudar quando observada dessa única janela. (É que o comboio anda, embora a paisagem fique lá). E por vezes, raras, há pessoas de entre essas, que voltam a olhar para a janela do outro lado, de novo. Só que tal como da primeira vez, a vez do primeiro olhar discreto, apercebem-se de que há outras pessoas entre elas e a janela, que poderão sentir-se desconfortáveis. Que poderão achar que a pessoa que olha, lhes pousou os olhos em cima e não na janela, porque de certa forma tem alguma coisa contra elas. Que poderão mesmo vir a achar que a pessoa só pode ser maluca por estar a olhar para ali em vez de olhar através da sua janela. É por isso que esquecem a janela do lado e se concentram na sua.
Um dia gostava, mas gostava mesmo, de ter coragem para meter conversa com uma dessas pessoas, que olham sempre através da sua janela, mas que num segundo ousaram olhar pela minha ou por qualquer outra janela para observar o outro lado da paisagem. Gostava de contar-lhes como é bonita a viagem de comboio quando se olha através de todas as janelas que os nossos olhos podem alcançar. Não que eu considere que a viagem não tivesse sido bonita, daquela vez, daquela primeira vez em que passei duas horas a olhar sempre pela minha janela. A paisagem era linda. Vi lagos e montanhas e animais. Cores, tantas cores. Mas há sempre momentos, troços da viagem, em que sinto que ela ficaria incompleta se eu não olhasse lá para fora através da janela do outro lado também. É que há pedaços de paisagem em que os lagos, as montanhas e os animais são mais bonitos, ou simplesmente estão lá, quando através da minha janela há apenas um descampado todo igual e sem fim ou um muro de pedra que tapa a vista para o que está mais longe, lá mais perto do horizonte. O ideal é, uma vez habituados ao caminho, sabermos onde estão esses pedaços todos de beleza e deixar o olhar saltar de uma janela para a outra durante toda a viagem.
Acho que vai demorar bastante até eu perceber essas pessoas de uma janela só. Mas acredito que seja possível. Tal como acredito, ou tento acreditar, que embora levem o seu tempo, elas aprendam um dia, a deixar ficar os olhos na janela do outro lado sempre que lhes apetecer, sem medo do que as pessoas que ocupam o espaço entre elas e a janela, possam pensar ou mesmo dizer.
(O meu sonho é um dia ir no comboio e de repente todas as pessoas começarem a falar umas com as outras, sobre o que pensam da paisagem).
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