quinta-feira, 10 de abril de 2008

Grito

E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços.

Experimento um grito
Contra o teu silêncio
Experimento um silêncio
Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos.

Pretextos para fugir do real
Alexandre O'neill


Não há sítio cá dentro que aguente mais conter este grito, mas também não há voz capaz de dar fim ao silêncio. Que fazer? Que dizer? Que esconder?

Gritar?
Calar o grito, de novo?

Escrever, escrever. Que o grito parece sair em surdina, mas pelo menos não mora cá mais.
Pudesse eu gritar a todos tudo o que está contido em mim, como o faço para a noite quando ela se deita comigo. Ela deve estar a chegar e quando chegar, não aquecerá a cama. Tornará ainda mais gélido o ar que me diz olá por de baixo dos lençóis. E eu gritar-lhe-ei para que me aqueça, apesar de saber que a sua única resposta será silêncio.

É por ter medo que me respondas da mesma forma que desisti de te gritar.