terça-feira, 28 de abril de 2009
28.04
Lembro-me deste dia, há cinco anos atrás. Cinco anos. Às vezes parece-me uma eternidade, outras vezes a memória encurta a distância do passado. Pouco importa, há cinco anos eu não era isto. Tu não eras isso. Mas o mundo era este, nós é que achávamos que não. De nós os três acho que ele é o único que vai mais ou menos seguindo o mesmo caminho, mesmo que saiba que nunca irá chegar a lado algum.
Que é feito de ti? Não sei. Se queres que te diga, perdi a vontade de saber. Não há lugar nem motivo para seres algo em mim. Se te dissesse isto olhos nos olhos, sei que te irias rir. Porque sabes perfeitamente que te eternizaste em mim e que haverá sempre um espaço para ti, um tempo para te recordar, pelo meio das muitas horas vazias que vou percorrendo no meu caminho, que hoje é tão diferente do teu. E então? Se soubesses como estão vivas na minha memória tantas outras situações, que não me provocam o mal que tu me fizeste... Posso sempre recorrer a elas em vez de pensar em ti. A escolha é minha, sempre foi. E eu escolhi-te a ti, há cinco anos. E voltei a escolher-te, todos os dias da minha vida, a seguir a esse, no início porque a tua presença na minha vida me proporcionava um bem-estar que nunca antes eu tinha atingido, depois porque a dor provocada pela tua ausência, pelo teu desaparecimento, foi durante muito tempo a única coisa a que me pude (ou quis) agarrar para te reviver, para nos reviver.
Não sinto nenhum rancor, ódio ou raiva por ti. Demorou tempo, é certo. Sei que foi contigo que aprendi o amor e foste tu também quem me ensinou que posso acolher dentro de mim todo o tipo de sentimentos. Do melhor ao pior. Hoje guardo apenas os bons, porque me cansei de ser infeliz num mundo irreal. Se é para ser infeliz, que seja neste mundo onde as coisas existem, onde as pessoas se falam e os sentimentos são de agora. Porque ficar no passado para se ser infeliz, é o mesmo do que nos visualizarmos num futuro feliz. Recordar e idealizar, tudo acaba por ser irreal. Gostava de conseguir banir da minha vida estes dois conceitos, mas acho que deixaria de existir caso tal acontecesse.
Pela primeira vez na minha vida, estou a tentar viver no presente. Ao descobrir a amizade, depois de ti, fiquei a saber que existem outras formas de amar. Que nos fazem menos mal e que nos podem preencher igualmente se assim o quisermos. Mas infelizmente eu faço parte daquelas pessoas que querem sempre mais, que nunca estão satisfeitas com o que possuem, talvez consequência de uma idealização excessiva, da busca de uma perfeição que tenho consciência de não existir. Mas isso sempre fez parte de mim. O que muda, não muito frequentemente, porque gosto de ficar presa a uma ideia durante muito tempo, é o objecto da minha idealização. E neste momento, posso dizer que sinto a mudança invandir-me. Sinto que já não és tu, já não é o nosso nós que eu idealizo. Sinto-me Dalí, sem que tu o sejas. Sê Picasso, sê o que quiseres. Sê feliz, ri, ama, chora, cresce, sente, dá a volta ao mundo. Sê tudo o que não pudeste ser comigo, que eu também não vou deixar fugir a oportunidade de poder ser algo sem ti. Ser algo melhor sem ti. Sozinha ou de mão dada com alguém, alguém que não sejas tu.
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